sexta-feira, outubro 16, 2015

A INDÚSTRIA DE FALSIFICAR A SIGNIFICAÇÃO

 

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Manusear o Correio da Manhã, que a sagacidade irónica de alguém designou (e bem) de “Correio da Manha”, é uma sindicância às evidências que naquele lugar moram. Com ostensiva e premeditada nudez, tais traços tornam-se corrosivos pilares de uma qualquer arquitetura da possibilidade, aliás sempre laboriosa e dura, de se alcançar o Real. Através desta abjeta destreza, de modo acintoso se aposta numa avivada (mas suja) diafaneidade que busca, tão-só, enturvar o inestimável Entendimento que, como se sabe, apenas ideias claras e sérias podem (e permitem) facultar. A colonização ideológica do “cenário de despolitização”, termo hoje referido (em entrevista ao Público) por Yanis Varoufakis, passa, na excelência, por este lastimável pasquim.

quarta-feira, outubro 14, 2015

A VORAGEM DO NÃO-ACONTECIMENTO

 

10349293A expectativa que algo aconteça faz-nos percorrer a calçada que nos leva da euforia ao desalento ou vice-versa. O sentido do percurso depende de onde nos encontramos e para onde queremos seguir. Acontecer é, porém, sempre qualquer coisa que acossa a rotina feita de nada acontecer. Se é bom ou mau acontecer … só o tempo o dirá. Uma coisa é certa; nada acontecer é apenas e tão-só estacar na calçada e bocejar na companhia da entorpecida rotineira.

terça-feira, outubro 13, 2015

E SE EXPERIENCIÁSSEMOS SER NOVAMENTE CRIANÇAS?

 

interrogaçãoTenho, para mim, que cedo demais desertamos daquele lugar onde o audaz “porquê?” de criança desafia a impenetrabilidade do mundo. Crescemos, temos de nos sentir crescidos e aos outros mostrar quanto crescidos estamos. É um tempo de afirmação onde o “porquê” nos transparece desvantagem e, quiçá, uma embaraçosa modéstia tocada pelos adversos e comprometedores subúrbios do delicado sentimento de ignorância. Abre-se, provavelmente assim, espaço ao orgulho embrutecido pela linguagem do convencimento, irrigando e adulterando esta através da cobardia que se mascara. Afirmar arrasta consigo uma consoladora fragrância de poder. Ao invés, perguntar prefigura o reconhecimento da possibilidade do poder do outro. Com alguma prudência direi que não fomos (nem somos) educados a questionar a prática e a obra imaginável do próprio questionar. Desistir de perguntar, abdicar de questionar, é renunciar entender como o mundo se exerce. Talvez por isso ele funciona como funciona sem um questionamento que verdadeiramente valha.

terça-feira, outubro 06, 2015

O PS E A SAÍDA PARA O FUTURO

 

futuroEnquanto não me apresentarem uma argumentação convincente e consolidada, capaz de reabilitar a minha ancilose epistémica, permanecerei seguramente conservador. O tópico contemporâneo das enraizadas e dissolutas desigualdades, aliás de iníquos e trágicos alcances, teima em exibir-me a relação capital-trabalho bem acomodada no miolo da desconfortável fórmula marxista da equação dos seus oponentes interesses e, assim sendo, a tornar-me incompassível aos hodiernos travestismos com que se entraja tal liame. Aqui repousa, nos dias de hoje, e do meu ponto de vista, a aporia (ideo)lógica do PS e da sua social-democracia e, sobretudo, do seu penoso tiquetaquear político de desejada, ou fingida, superação.

A questão não é, como creio, de ter ou não responsabilidade institucional, preceito eleito (como convém) pela governabilidade da dominante Ordem, mas de um inconfundível posicionamento face à verdade da iniquidade do real. Esta verdade pede clareza e não uma qualquer retórica que subjaz à evasiva do seu íntimo entendimento. A bipolarização política vai-se, assim, entregando aos extremos, não outorgando espaço às premeditadas vacilações e obscuridades. Aqui, afinal, reside para mim, a consequente positividade sarcástica das consequências históricas deste selvático e dogmático Conselho de Washington. Aprendi que ter esperança não se fica pela espera. Ter esperança incita a caminhar atrás do que não existe no interior da insatisfação pelo que existe. Este é o esperar da esperança do meu conservadorismo e do otimismo que o segue na vivificante SAÍDA para o FUTURO.

sábado, outubro 03, 2015

PRAXATEAR AS CONSCIÊNCIAS

 

16536375_pwf5kDefinitivamente, não condescendo com as praxes arbitrárias e humilhantes. A dignidade humana e o sentido de Universidade que a ela se impõe associar, exigem vindicar algo bem diferente e bem mais escrupuloso no desígnio ético. Suspeito que uma liberdade perdida no vazio de referências, sem regras e estremas, prontamente encaminha a benignidade dessas tradicionais práticas de iniciação e de integração para o cavouco obsceno da indignidade e do escorchado espetáculo. Reconheço que se trata de um radical sentimento pessoal que se apura face a comportamentos que considero digressivos para quem busca coabitar um emérito lugar de elevada formação e de expectável responsabilidade social e cívica. Admito que aprecio a rebeldia (ou a insubmissão) quando esta sabe exercer o seu espírito crítico em fecundo e inteligente diálogo com os valores sociais e políticos da cidadania. Nesta medida, creio sensato que se estime este (ab)uso reprovável da praxe olhando para ele como uma espelhada e inquietante imagem de uma sociedade em que o valor do outro obedece à tirania de uma aviltada razão instrumental. Ainda é tempo de não comprometer insanavelmente o compromisso com o outro. Culpar os desregrados não desobriga as responsabilidades coletivas e, sobretudo, o instituto que destas deve cuidar, tutelando o tempo vindouro que a todos nós pertence.

 

Imagem retirada DAQUI

quinta-feira, outubro 01, 2015

A ESTRANHEZA DO ÚTIL E DA UTILIDADE DO VOTO

O PAPEL DO JORNALISMO NA CONFISCAÇÃO DA DEMOCRACIA

votoutilApercebo-me que a função social do jornalismo – verdade seja dita, qualificadora da legitimidade profissional do jornalista – vagabundeia hoje pelos becos de uma obscura “deontologia”. Descuidada da sua originária missão, a auspiciosa função social, o jornalismo vem-se acostando e, de uma forma extremada, amimando a ávida jurisdição dos conluiados poderes económicos e políticos.

Entre outros pastoreios, deste respaldo se efunde, como parece ser óbvio, uma disposição contrafeita pela incursão no jardim das delícias do dinheiro e do poder, com a incluída barganha dos senhores poderosos dos media. Aqui, neste lustroso covil, o consenso converte-se no propósito comum do ajuste; o folclorismo da conflitualidade, numa conveniente diversão prescrita; e a dissidência, numa mera periferia onde se desdenham as proezas da irresponsabilidade ou da utopia.

A política está infamada, diz-se. Tagarela-se sobre a crise de representação incriminando, talvez com razão suficiente, a partidocracia ocorrente; uma sequela provável do confisco perverso dos diretórios partidários. Deste modo, os pecados da democracia ficam nomeados e, para brandas consciências, apontados estão os incontritos pecadores.

O que dizer então, nesta embrulhada, da envoltura comprometida do poder mediático? Como pratica este o jogo da mediação? Se medeia é porque ocupa um determinado meio; supostamente, uma valiosa centralidade nessa prestadia jogatana da tradução e representação do palpitar concreto das inquietações das gentes. Assim sendo, se há crise de representação, a crise também os compromete.

O decente e isento entendimento das coisas, que eu saiba, pressupõe ideias e destas, exige-se rigor e clareza. Eis o encargo a que os media estão obrigados pelo seu mandato social. E sobre esta matéria, estamos conversados. O voto útil, tema fartamente propalado pelo comentário político (e não só), torna-se, nestas circunstâncias, um bom exemplo de manipulação. Uma ideia turva e acintosamente enganosa de afunilamento democrático a favor das alternâncias e em desfavor das alternativas.

Pois é. Ao contrário do se pensa, o jornalismo não se mostra hoje vinculado à obra da democracia. Não respeita o dever de informar com verdade e, nessa medida, anarquiza os preceitos do escrutínio democrático. Assim vai um jornalismo que, cada vez mais, dimana, não da sua primordial função social, mas da determinação e das cumplicidades do acumulado e concentrado poder, incluindo dos mediáticos patrões. O Trabalho que se cuide. O Capital e os seus afins, esses, já se apropriaram da democracia, com o propósito neoliberal de obter (para si) um estado de classe cada vez mais rendido ao capital financeiro.