segunda-feira, julho 02, 2018

COXA E INCLINADA, A IMPOSSIBILIDADE DA QUADRATURA DO CÍRCULO


Banner2_quadratura_circuloEm jeito de tópico central acautelaria a ideia, porventura a crença, de que disputar a verdade da Desigualdade e da Injustiça, acintosamente maiusculizadas, torna-se uma manifestação que garantidamente espelha quem a tal se expõe. Ser de diversas pertenças, de naturezas múltiplas, por certo, e desde logo, tal condição indelevelmente marca o horizonte das nossas disputas humanas. A todo o tempo, esse além apresenta-se distinto e, acima de tudo, dissemelhante na sua imediatez. Porém, entranhados no (e pelo) princípio da estratificação, e como tal amarrados aos seus critérios de sujeição, esse tornar-se diverso, de um modo inconsciente, deixa-se entorpecer pela inércia da naturalização e da sua vigorosa dinâmica socializadora. Como? Supostamente através da sedimentação de uma consciência social que advém, creio eu, da apropriação, poder e uso desigual das engrenagens da vida coletiva nas suas múltiplas possibilidades e contingências.

Esgrimir argumentos sobre aqueles temas, teimosamente acasalados, só a petulante tecnicidade económica se afirma valorosa e capaz, conseguindo impor-se, digo eu, pela falaciosa e fabulizada retórica da neutralidade da sua diligência. Deste jeito, as ideologias que dela se servem deixam assim de o parecer, tornando-se ilusão útil, ao contrário de outras, ato contínuo inculpadas de cuidarem unicamente de suspeitos interesses de grupo, corporativos ou de classe. Eis as raízes silentes da matriz neoliberal, consubstanciadas no enaltecimento da regência técnica, no desamor pela democracia e na aversão ao Estado social. Daí que, a Quadratura do Círculo, usando apenas a régua e o compasso do arranjo capitalista, falha na sua geometria política, pese uma certa e ajuizada moderação, considero eu, de Pacheco Pereira. Jorge Coelho, este, por sua vez, em tal caso e circunstância, de régua em punho, vai gizando linhas endireitadas de cauteloso otimismo, prudentemente rabiscadas, como convém, de coloridos traços pragmáticos. Lobo Xavier, mais explícito e desvendável, ufanamente apegado ao seu compasso, reduz-se a esboçar círculos que balizam garantias aos que trabalham, assim como ao investimento que a todos possa servir, dando espaço, e de muita sobra, aos bonecos ilustrados dos negócios privados. Isto posto, com tal régua e esquadro, estou convicto que jamais se criará o almejado quadrado de igual área ao suposto círculo. Coxa e inclinada, a Quadratura do Círculo assim se manterá, sempre viva, na sua epidémica impossibilidade.

Foto retirada DAQUI

Sem comentários:

Enviar um comentário