quarta-feira, novembro 07, 2012

A TALHE DE FOICE – A PROPÓSITO DA CLASSE MÉDIA

 

Nada É Impossível De Mudar

Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

(Bertolt Brecht)

mudar-de-vida-radicalmenteVive-se um tempo em que a cultura dos excessos, própria de uma sociedade consumista, se nega e enreda em dificuldades e privações. Novas ansiedades daí despontam na proporção das preocupações e dos sofrimentos que se afiliam em crescendo. O curso das mutações agrupa na sua íntima precipitação tudo o que agita e se movimenta; o que vale e desvale. Na natureza inversa destas ponderações a impudência invade as guardianias do exemplo e da autoridade. Do poder à política, atingindo outras idoneidades. Os receios e os medos provindos - sem peia - exaurem a energia do sentimento de liberdade. Numa ética assim naufragada, tudo parece autorizado. Em socorro, a justificação dolosa substitui a explicação necessária da ruína existencial.

A deserção inconsiderada no consumismo, no individualismo e no desbalizar de referências essenciais, daquelas que verdadeira e humanamente importam, sempre arredam o sentir doloroso dos vazios que (per)seguem os que se creem instalados. À medida que a crise (ou o que dela fazem) deixa o seu rasto, os mecanismos de defesa fazem-se anémicos e os artifícios de fuga inoperantes. Acorda-se angustiado perante uma realidade que compromete e, sobretudo, acabrunhado pela descoberta da insensatez de como se a viveu. Incapaz de estabelecer - com verdade - laços de reciprocidade e de solidariedade remanesce apenas a melancolia da desesperança e a amargura do desamparo. Lê-se Bertold Brecht (ou melhor, Martin Niemöller) e descobre-se finalmente A INDIFERENÇA que perturba.

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