domingo, março 10, 2013

FALAS BEM MAS NÃO ME ENFEITIÇAS

coutinhoAdmito a minha incomplacência mas João Pereira Coutinho causa-me enfado ideológico e, por epidérmica irritação, põe-me em constante pele de galinha. Porém, como não há lugar público onde não se esbarre, logo de manhã, com o afamado jornaleco correio-das-desgraças, acabo por tomar o meu café matinal na companhia do maldizente que aparenta ser menino bem, talvez queque ou simplesmente um betinho petulante de aspeto indomesticável. Lembrando-me do texto “Fidalgos, Queques e Betinhos” de Miguel Esteves Cardoso, a insolência do colunista faz-me ver nele uma espécie de betinho douto que tudo faz para ocultar a sua proximidade genealógica ao vulgacho, tratando mal aqueles que considera inferiores (demasiado mal) e bem aqueles que considera superiores (demasiado bem). Provavelmente estou errado mas, com toda a franqueza, em tempo algum me darei à canseira de o colocar na gaveta certa. Mais do que me certificar da circunstância da descendência ou do seu meritório percurso interessa-me, aqui e agora, reagir à sua frenética sobranceria.

Decidiu Coutinho escrevinhar, insurgindo-se, sobre o pornográfico cortejo de elogios ao caudilho a quem mima de Santo Chavez. O que ele acha sobre o Santo - as esmolas ao indigenato, a sua indocilidade bolivariana e o seu autoritarismo desqualificante – é o contrário do que muitos outros pensam de Chavez. Assim, onde Coutinho enxerga um santo malfeitor, outros reconhecem um virtuoso revolucionário. No entanto, o que me parece singularmente estrábico é o seu sábio desfecho. O santo malfeitor, afinal, constitui o típico exemplo de alguém que usa a democracia para subverter a democracia e que, por essa razão, convém não transformar em santo quem de santo tinha nada. Para quem não sabe, Coutinho habita um paraíso imune às pervertidas traficâncias do capital financeiro. Resfolga numa edénica democracia inabordável às devassas negociatas de ganhos a qualquer preço. Feliz, estima os seus governantes que prezam o prometido e enobrecem a democracia. No fundo, Coutinho vive remansado num lugar aprazível onde os recursos públicos não resgatam bancos, os responsáveis pelo colapso estão presos e o jogo sujo das hipotecas e dos incumprimentos é fortemente reprimido. O Coutinho é um menino afortunado. Goza de uma excelsa e sublime democracia. ORA VEJAM...

 

Imagem retirada DAQUI

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