sábado, março 01, 2014

A ABSOLVIÇÃO “COMPETENTE” DA EXPLORAÇÃO

força trabalhadoresJosé Pacheco Pereira (JPP) escreve hoje (01MARÇO2014) no Público, e a dada altura, no seu texto “A Europa que nunca se debate”, forma o seguinte juízo: “Com candidatos como Rangel e Assis, que é bastante próximo de muitas posições de Rangel, o debate europeu ficará prejudicado por se fazer apenas dentro de uma ortodoxia europeísta que, do meu ponto de vista, de há muito perdeu o contacto com a realidade das nações europeias, com aquilo que é hoje a União Europeia, e com a vontade dos povos e nações da Europa”, sem que antes não se tenha coibido de acusar Rangel como “o mais europeísta de qualquer candidato europeu até agora”. De acordo com JPP, pelo que diz e escreve, Rangel mostra-se “um crítico da própria ideia de soberania e independência”, já que, ao congratular-se “com a deslocação da decisão constitucional do âmbito nacional, no caso alemão, para o Tribunal Europeu”, não deixa de implicitar a sua posição face às decisões que têm vindo a ser tomadas pelo Tribunal Constitucional português.

Não obstante a descoincidência na estética, o discurso de Rangel não só se associa como substancia a prédica do seu governo, designadamente quando, no contexto europeu, ele se arruma ao lado do “europeísmo mais extremo” do Partido Popular Europeu. Governo e Rangel estão assim abancados num alucinado avião que preanuncia descolar mas, na realidade, não levanta voo porque o delírio não produz qualquer energia impulsora. Uma estranha crença espirita se instala, assim e neste acinzentado tempo, ao encarnar o desvario fundeado numa espécie de religiosidade que faz da pobreza e das desigualdades a sua dinâmica constituinte e do abandono e da incerteza a condição vital dos seus indizíveis proveitos. O baloiçar do sofrimento errante, mergulhado num mundo de dependências, mantém viva a missão purgadora dos seus residentes, destinando-lhes um colo assistencial ao sopro do seu messiânico e estoico arengar. Nesta liturgia político-religiosa, a aristocracia – dos dinheiros e das influências – procura amimalhar a relação com os seus humildes alentando a ilusão de uma proteção garantida nesta vida; outros, em amiganço com a ganância dos primeiros, prometem o amparo noutras e futuras vidas. Até quando aceitamos esta miserável comédia?

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