domingo, março 16, 2014

A QUEM APROVEITA A FRAGMENTAÇÃO ARDILOSA DE QUEM VIVE DO RENDIMENTO DO SEU TRABALHO?

reformados2A saída da crise económica, pela competição que gera, exige uma imediata e descautelada exploração não só dos que trabalham mas, de um modo incompassivo, também dos que fazem jus ao direito da sua justa e legítima reforma. É nesta moldura política e ideológica, onde o capital ocupa o centro e ao trabalho apenas remanesce uma inumana periferia, que o capitalismo neoliberal, aliás geográfica e desigualmente repartido, procura ganhar tempo histórico para a mesmidade de uma recuperação, provavelmente hipotética mas, como sempre, mascarada.

A generalidade dos economistas, por pedantismo formativo ou  insolência política e/ou, ainda, por mesquinhas e interesseiras vassalagens de momento, mostra-se vulgarmente empedernida aos dramas da aplicação supostamente sábia das leis internas do seu requerido e exclusivo saber. Aliás, como se sabe, onde estes procuram regularidades, ciclos e previsibilidades, outros não podem deixar de se preocuparem com a condutividade e explicação dos desconcertos humanos e sociais do alcance prático, teórico e ideológico, desses mesmos saberes.

A fragmentação ardilosa incentivada entre trabalhadores no ativo e trabalhadores reformados, entre jovens e idosos, entre pessoas que trabalham no privado e os que trabalham no público, entre algumas outras patéticas dicotomias, não são mais do que minúcias despudoradas de um epifenomenismo resultante do atual reportório das políticas que, matreira e silenciosamente, se vão acomodando. O cinismo é tal que se descobrem insustentáveis injustiças entre os que sofrem e se ignoram as distâncias que separam estes dos que deles à custa vivem.

Assim sendo, o que pode esperar, destas políticas, o Trabalho? Como se vai, com clareza, confirmando, o que se pode esperar é a redução dos seus rendimentos quer por diminuição do salário real, quer por aumento das horas de trabalho não remuneradas, quer, ainda e indiretamente, por pressão do elevado desemprego. Tudo isto num contexto socialmente desfavorável, marcado por um Estado-Providência em profunda asfixia graças ao crescimento desregulado de uma obscena e impositiva financeirização, com lucros rentistas, daí advindos, verdadeiramente ultrajantes.

Nesta circunstância, apresenta-se-me então uma decisiva questão; como manter o epílogo desta crise em aberto e não blindado aos propósitos do neoliberalismo vigente como pretendem as atuais forças políticas governamentais, nacionais e europeias? Pelo que atrás se destacou, uma coisa parece configurar-se acertada. Como condição medular, importa que a classe trabalhadora, pese embora a diversidade social dos que hoje vivem do Trabalho, não se deixe ingenuamente fragmentar e que, de um modo pragmático, embora lúcido e impetuoso, se saiba solidarizar, unir e organizar à volta do que afinal é comum na sua essencialidade. Ou seja, no dinâmico posicionamento crítico, considerar como fundamentais as referências da substantivação da democracia, da dignidade das existências e da equidade e justiça sociais. A manipulação do Capital tornar-se-ia bem mais árdua e custosa, quando não inoperante.

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