sexta-feira, abril 11, 2014

A LABORIOSA LIBERDADE DE VAGABUNDEAR

127340_Papel-de-Parede-Tempestade-no-mar--127340_1440x900O meu íntimo, embora saturado de um labiríntico de afetos e pensamentos associados, desafia-me a viajar por minha conta e risco, liberto do olhar sentinela dos poderes expansivos e das violências intrusivas de um qualquer Outro, quiçá desorientado no interior túrbido da sua impulsiva presunção. Destes abanões, com o tempo aprendi a livrar-me instintivamente da mesquinhez de uma universalidade socialmente inventada e da mediania de um senso comum adormentado na desnaturada sujeição que a encaminha. Por esse motivo, nesse meu recanto íntimo, guardo este lindo poema de Manuel da Fonseca, com que uma sábia e sensível amiga , num dia de penoso desencanto, me soube reconfortar.

 

 

O VAGABUNDO DO MAR

 

Sou barco de vela e remo

sou vagabundo do mar.

Não tenho escala marcada

nem hora para chegar:

é tudo conforme o vento,

tudo conforme a maré...

 

Muitas vezes acontece

largar o rumo tomado

da praia para onde ia...

 

Foi o vento que virou?

foi o mar que enraiveceu

e não há porto de abrigo?

ou foi a minha vontade

de vagabundo do mar?

 

Sei lá.

 

Fosse o que fosse

não tenho rota marcada

ando ao sabor da maré.

 

É, por isso, meus amigos,

que a tempestade da Vida

me apanhou no alto mar.

 

E agora,

queira ou não queira,

cara alegre e braço forte:

estou no meu posto a lutar!

Se for ao fundo acabou-se.

Estas coisas acontecem

aos vagabundos do mar.

 

1 comentário:

  1. Excelente texto, revi-me nele de certa forma, bem escolhido o poema de Manuel da Fonseca.
    Abraço

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