sábado, julho 08, 2017

ESTRANHEZAS


Não me revivem deuses, santos ou ídolos de infância. Na escola, na igreja, e mesmo na família, retrataram-me uns tantos. Alguns deles, presentes demais em explanações fatigantes de estórias longínquas. Outros, poucos, mais avizinhados, carrearam uma outra vitalidade, na verdade, mais intimativos ao meu impressionável imaginário. Os retratos destes, em película, ofereciam proximidade, as estampas de outrora daqueles, apenas aparências misteriosas e improváveis. Assim, se porventura os tive, a deslembrança confirma que eles não resistiram ao passar dos tempos. Em definitivo, não habitam em mim heróis provindos da minha infância.

Mais tarde, no tempo adolescente, relevei algumas criaturas. Ainda assim, não muitas. Algumas que me destinaram marcas cinzeladoras do que tenho vindo a ser. Outras, que se me afigurando provocantes, e sobretudo intrigantes, delas conservei vestígios. Melhor, uma memória adiada, embora fecunda na sua permanecente e excitante estranheza. Quando a generalidade das pessoas me fala dos seus heróis e ídolos, não deixo de me sentir órfão desse comum partilhado. Interrogando-me, apesar de respostas presumíveis, não choro esse interpelante desabrigo. Talvez por isso, o culto aos heróis e notáveis não abalou, reconheço, a minha abaladiça emoção. Talvez por isso, não vicejei um qualquer instinto de rebanho. Talvez por isso, me sinta hoje um “velhote” tranquilo, cadenciado pela sua paradoxal inconformidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário