terça-feira, outubro 10, 2017

DECERTO, ILUDINDO O DESABRIGO DO TEMPO

Um tipo, quando escala a uma idade mais avançada, bem vivida e calejada, é natural que se vá dando, com o tempo, a um outro andamento. De quando em vez, a vivacidade que lhe remanesce resiste melhor às sacudidelas do imediatismo e a experiência dos refolgos, à peculiar condição, faz-se aprendizagem. Benfazeja por vezes, se bem que correntemente inquietante. Em tais casos, despertam-se inéditos acessos, alguns deles impremeditados, dificultando que os caminhos outrora demasiado espezinhados, e hoje não andarilhados, se façam penosos e soberanos vazios que unicamente a resignada memória dá conta de habitar. Assim sendo, e acompanhado por este acolhedor otimismo, vai-se rasgando este novo tempo resguardado, tanto quanto possível, das inevitáveis intempéries da vida.

É isso, creio eu. Não obstante, pergunto-me se acredito mesmo crer? Ou, pelo contrário, se calculo eu que o seu avesso abrigue mais verdade? Não sei. Releio o que aqui aprontei em jeito de texto, rabiscado e acomodado por palavras acotoveladas pela vontade de enxergar futuro. Afinal, o que de sincero admito no que acabo de escrever? Com efeito, não sei. Suspeito, isso sim, que o essencial eventualmente me tenha atraiçoado e escondido atrás das doces e simpáticas palavras, que essa vontade, mais do que eu, soube juntar. Se assim aconteceu, porventura, ainda bem. Por certo, sensatamente não quero agora sequer encontrar as inverdades que elas encobrem, as indignações que elas mascaram e os ressentimentos que nelas rodopiam. Por conseguinte, repito, não sei, não quero saber. Mais-quero, isso sim, deixar-me encantar melosamente pela exalação desse bálsamo que o otimismo, generosamente, desprende e espalha e eu, respirando-o, dele possa beneficiar.

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