sexta-feira, janeiro 26, 2018

LUGARES DE SINGULARIDADE


23416968_191901008041952_6990950217960914944_nO exílio, do sinistro degredo ao sóbrio isolamento, encaminha o homem para lugares, por certos desiguais, de imprecisos sentimentos de perda e ausência. Sobretudo, e em comum, de perdas que magoam a dignidade e confundem a identidade humanas. Daí se faz um cabouco que não acautela um humano assento aos alicerces da basilar e íntegra singularidade. A diferença inquieta, eis o silenciado fundamento, aliás  sempre presente, na mudez da exclusão. Em particular, porque incomoda e desfigura as abstrações e as racionalizações das almas sossegadas. Os zeladores da ortodoxia cultural e da sintaxe social cumprem aqui o seu papel. O impulso intrusivo à absorção, mediante o constrangimento à semelhança, de imediato é assim suscitado. Em consequência, as condições da verdade movem-se e ajustam-se. Da lógica da razão, solta-se então o furor desajuizado do reprimido. Na fé de que a dobra das vidas e das experiências consertem as expectativas e agasalhem o imperturbado futuro. Contudo, o exilado ao (sobre)viver, caminha por muitos e outros lugares e não-lugares, entre si miscigenados, certamente, em um lugar-outro. Rasgando, assim, novas fronteiras, alargando as suas experiências e, arrastado pelo desconforto, adentrando-se por outros horizontes, perspetivas e sensibilidades. Os danos, afinal de contas, nos seus efeitos, aos sentimentos de perdas, apensam e transladam outros possíveis alcances. Na busca de diferentes sentires e presenças que iluminem a própria dignidade e avivem, em síntese, o substancial da singularidade que dela, da dignidade, tem obrigação de cuidar. O necessário e o útil, nem sempre comunicam através da invenção da semelhança. Diria mesmo, raramente se entendem.

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