domingo, novembro 17, 2019

TÓPICOS DE UMA MEDIAÇÃO DESACREDITADA


O Muro caiu e com ele dissipou-se uma marcante fronteira no tempo político. Em crescendo se abriram novos e contrastantes horizontes, e novas e resolutas engenharias se engendraram. O exercício mediático foi-se então confortando no poder ganho, e se propagando na sua ambição. Entretanto, outra e dúbia condição se espalhou. Subterrâneos interesses aproveitaram, e instalaram-se. Passo a passo, a democracia abraçada veio-se assim demudando, desfigurando-se. Habilmente o cidadão virou público, o espaço público plateia. Logo se anunciou a pós-democracia, obscura realidade ainda por entender. A cidadania foi-se desvitalizando e as suas referências perdendo-se no além do embaciamento. A superfície dos factos, por fim, tornou-se palco, publicidade, mercado. Consumo e espetáculo de emoções e fabulações assim aproveitáveis. Infundiu-se a insegurança e a incerteza, pilares do político inconfiável. Desacreditou-se a mediação prestativa, de análise e fundura úteis. Sobrou, pois, um horizonte de ligeireza, de disfarce e de fingimento. Um prolífero terreno de aproveitamentos, nutriente de sórdidos e improváveis populismos. Uma democracia, afinal, anémica, indefesa, também ela desmurada. Dos muros primordiais de intermediação que, outrora, a fecundaram e a protegeram. Em sinopse, tópicos para cuidar e pensar um futuro. Aliás, um futuro já hoje presente.

Imgem retirada DAQUI

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