sábado, junho 10, 2023

NA CONVIVÊNCIA DO ÍNTIMO E DA VERDADE

A racionalidade, a cada momento, é desafiada por sensações e inquietações que desarrumam a condição do agir sentido e autêntico. A proximidade de abertura sincera ao outro, e à incitação da verdade, desde logo se confronta com a ligeireza do movimento cómodo como desviante da apatia que nele se inscreve. A razão e o sentimento, obrigados ao diálogo, e não ao silêncio, aí se afrontam ante o conveniente e humano postulado da sinceridade e da naturalidade relacional. Do meu ponto de vista, o sentimento não é forçosamente uma “erva daninha”[1], mas sim uma exigência de confronto delicada com a verdade, e a coragem, dadas as remanescentes representações, incoerentes e dissonantes, que a perseguem e a sitiam. A ideia de suposta inverdade, ou até de meia-verdade, não sendo mentira clara, com esta se concerta na sua inevitável e celular patologia. O relacional humano ecológico com este mal empobrece, certamente. O valor da verdade, desta verdade com o outro próximo, não me emerge de referenciais obsoletos e disciplinantes. Pelo contrário, desponta da liberdade de ser na continuidade e vivência de caminhar o comum que a perpetua e revigora. Não sendo fácil, ainda assim afigura-se-me este o acesso e o rumo do ansiado possível.



[1] Expressão usada por Zygmunt Bauman, em “A vida Fragmentada”, pág.65.

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