segunda-feira, fevereiro 17, 2025

TECNOLOGIA, SUBJETIVIDADE E OS DESAFIOS ÉTICOS NA ERA DA INOVAÇÃO

Quando reflito sobre as mudanças que a invenção e a mecanização trazem, não apenas para o campo técnico, mas também para a própria subjetividade humana, sinto-me um pouco perdido entre esse avanço e as transformações nas mentalidades e formas de viver. A invenção não se limita apenas ao progresso do saber técnico; ela provoca também mudanças nos desejos e objetivos das pessoas. Daí a grande dificuldade, apesar das inspirações significativas que surgem. As repercussões dessas transformações abrem novos horizontes e modos diferentes de organização social. A padronização tecnológica, que organiza a sociedade moderna, não se resume apenas à sua evolução, mas representa uma mudança desafiadora e provocante nos modos de ser e de pensar.

A transformação tecnológica não se limita a uma soma de inovações, mas traz também novas formas de organizar a vida, que, por sua vez, impactam as múltiplas subjetividades humanas. Ou seja, afeta as diversas realidades que se inter-relacionam no trabalho, no tempo e até mesmo no âmbito das emoções e perceções do mundo. Surge, então, uma questão fundamental: a relação entre a subjetividade humana e os valores éticos em tempos de inovações tecnológicas poderosas. A subjetividade é moldada por uma combinação de fatores culturais, históricos e sociais, e impulsionada pela experiência individual de cada pessoa. As inovações, especialmente as tecnológicas, têm um impacto direto e imediato sobre essa ordem subjetiva, alterando a forma como nos vemos, nos relacionamos e percebemos o mundo ao nosso redor.

O referencial humano e ético, apesar de sua flexibilidade, impõe-se nesse contexto, pois exige que as mudanças sejam situadas dentro de um campo de valores que respeitam a dignidade, a liberdade e o bem-estar humano. À medida que as tecnologias automatizadas invadem a vida cotidiana, o que está em jogo não é apenas o avanço técnico, mas também o impacto dessas mudanças nas relações humanas, no trabalho, na cultura e na moral. Assim, o referencial ético, enquanto orientação para a integração da tecnologia na vida humana, tem como objetivo garantir que o ser humano não se torne secundário ou subjugado pelo poder das máquinas ou dos sistemas automatizados. A ética, nesse sentido, protege a subjetividade humana da acomodação fácil ao prático, útil e concreto.

A reflexão ética nem sempre é tranquila ou confortável. A subjetividade, ao se limitar ao imediato e à utilidade, acaba por negligenciar a necessidade de inovações que promovam uma sociedade mais justa, inclusiva e envolvente, respeitando a liberdade e a dignidade de todos. A ética não se resume a uma questão de regulamentação ou restrição, mas envolve uma solicitação mais exigente quanto ao impacto das inovações na formação do sujeito enquanto ser humano. É nesse sentido que acredito que a educação, a filosofia e a psicanálise podem desempenhar um papel essencial.

Quando relegadas a um segundo plano, essas áreas perdem a oportunidade de oferecer orientações fundamentais para o entendimento intrínseco das mudanças que influenciam o sujeito, a sociedade e as relações entre ambos. Portanto, devemos vê-las como fundamentais para uma compreensão mais completa e abrangente de como essas mudanças afetam o todo relacional. A educação, por exemplo, pode e deve enfatizar a reflexão crítica, a ética e a empatia, levando em consideração não apenas os benefícios imediatos, mas também as consequências a longo prazo para uma humanidade mais coesa e solidária. A filosofia, por sua vez, pode ajudar a questionar os pressupostos que orientam o desenvolvimento das inovações, considerando a noção de progresso e a virtude de produzir o desejado. A psicanálise, por sua vez, oferece uma contribuição significativa ao investigar as dinâmicas internas do sujeito diante dessas inovações. Ao focar nas motivações inconscientes, nos conflitos internos e nas relações de poder que surgem nas interações com as tecnologias, a psicanálise pode nos ajudar a entender como essas inovações afetam a psique humana, seja no que diz respeito a novas formas de dependência ou alienação.

Portanto, a educação, a filosofia e a psicanálise não devem ser vistas como disciplinas secundárias ou marginais nesse debate, mas como áreas de conhecimento centrais. Elas são essenciais para compreender os impactos das novas tecnologias de uma maneira ética, humana e profunda. Essas disciplinas podem ser aliadas poderosas para garantir que o uso das tecnologias não se distancie dos princípios fundamentais de ética, dignidade humana e respeito à subjetividade.

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