terça-feira, agosto 26, 2025

A NOBREZA ATREVIDA DE PEDRO TADEU

Portugal tornou-se, penso eu, um país onde a “isenção jornalística” é a maior das ficções. Comentaristas que se repetem de canal em canal como papagaios de cartilha, notícias cozinhadas à medida do patrão e uma neutralidade tão casta que só serve para proteger os fortes e calar os fracos. Eis o jornalismo conservador que temos: obediente, previsível e com o brilho crítico de um apagador de quadros.

No entanto, eis que surge Pedro Tadeu, sem cobardias, incómodo, assumido, comunista. No seu livro Porque sou COMUNISTA, relembra o óbvio que todos fingem ignorar: não existe jornalista neutro. A neutralidade é apenas a ideologia dominante disfarçada de batina branca. Fingir que se olha o mundo sem ideologia é o truque, talvez, mais gasto da propaganda.

O que pode existir, mas que raramente vemos, é independência: a coragem de reconhecer as próprias lentes e, ainda assim, procurar uma verdade que não seja apenas a fotocópia do discurso oficial. Utopia? Talvez. Mas sem utopias a profissão não passa de boneco articulado.

A opinião não é notícia, nem reportagem, nem análise. Mas em Portugal tornou-se tudo ao mesmo tempo, ou, mais claramente, um circo onde o comentador faz de repórter, o repórter faz de moralista e o moralista faz de cão de guarda do patrão.

Pedro Tadeu, pelo contrário, não se esconde. Assume o que pensa, expõe as suas convicções e, sem medos nem receios, é aí que exprime a sua verdadeira liberdade. Muitos outros, pelo contrário, vão-se ajoelhando perante a fábula da isenção, enquanto Pedro Tadeu mostra que a ética não é afastamento de ideias, mas sim clareza, coragem e rigor.

Neste tempo em que grande parte do jornalismo português se tornou caixa de ressonância do conservadorismo, confundindo ponderação com cobardia e imparcialidade com sabujice, Pedro Tadeu torna-se uma raridade: não mais uma voz que dá relevo ao poder, mas uma voz que, certamente, o incomoda e desassossega. 

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