A felicidade não se compra, nem se exibe, cultiva-se. O que o consumo chama felicidade é apenas montra, o que a vida chama felicidade não passa de um silêncio que em nós habita. A felicidade é menos um fim do que um repouso atuante, uma serenidade que se enriquece nos interlúdios e não se alimenta dos proveitos das esperanças efémeras. Não há uma felicidade universal. Ela é sempre singular, florescendo no enlace das relações. Ser feliz não é imitar alegorias abastadas, mas resistir à sedução fácil delas. O assombro quer que a felicidade se divulgue; a vida, porém, exige que ela se viva. A cultura da felicidade não dispensa o ato ético, ou seja, cuidar de si sem se perder no reflexo dos outros. A felicidade é uma resistência discreta, não imitando imagens, mas florescendo no intervalo do vivido. Contra o mostruário do mundo, não escapa ao exercício ético do silêncio. Ser feliz não é mostrar-se, mas tornar-se capaz de se habitar. Em síntese, cultivar a felicidade é menos buscar um objeto do que exercitar uma relação viva consigo mesmo, com os outros e com o mundo, isto é, uma relação que resiste a ser convertida em presunçosa imagem ou mesmo numa ridícula e enganosa mercadoria.
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