quarta-feira, março 21, 2018

OS MEDIA, UMA FONTE TÁCITA DO POPULISMO?


No seu livro O QUE É O POPULISMO?, Dani Rodrik diz-nos que Fukuyama, ao prenunciar “O Fim da História”, não reclamaria sustentar o fim de todas as hostilidades. Talvez afiançasse, isso sim, que a democracia liberal (associado ao capitalismo de mercado) não teria no futuro, e no plano das ideias, eficazes concorrentes. Para tal, como justificativas, convoca a assombração do “islamofascismo”, avoca o “modelo chinês de capitalismo” e, sobretudo, desperta para o perigo crescente fenómeno do populismo. Dani Rodrik contraria, com tais fenómenos, o altaneiro convencimento de Fukuyama. Acima de tudo, e isso particularmente me interessa, manifesta que tal perigo possa vir do próprio interior do mundo democrático, hoje reconhecidamente rebaixado.

Este último lampejo, o do populismo que daninha enraizado no modelo democrático, é aquele que, por isso, aqui importa permanecer e, a ele recorrendo, espiar culpabilidades que os media têm vindo a gerar no adensar da epidemia desta doença politicamente traiçoeira. Entre o que o cidadão necessita de saber (exigência política) e o que interessa ao consumidor (conveniência de mercado), solta-se a substância de um intervalo que se impõe assim como matéria de indagação. Não perdendo tempo, por evidente serventia ao intuito de despudorada despolitização, com um tipo de mediação/mediatização afeito às alcoviteirices sociais, às indecorosidades sexuais e aos crimes e escândalos que compungem, sem interrupção avanço, de um modo esquemático, para a sinopse que importa.

Historicamente, julgo ser consensual que o jornalismo serviu provadamente o instituir da Democracia, designadamente da democracia representativa. Hoje, o dito Mercado, através de um todo poderoso industrial e empresarial no campo da informação, tem vindo a distorcer a qualidade dessa irmanada e alicerçadora convivência memoriosa. Como prólogo aos tópicos que a seguir na sinopse se considera, vale a pena caracterizar, em jeito breve (e decerto caricatural), o que significa (e alcança) esta, hoje, original máquina social do mediar imediato da informação. Ela (esta máquina) encaminha, através de acertados filtros, os nossos olhares a espreitarem e a descodificarem uma certa, aliás particular, e (correntemente) imperfeita realidade. Ela (esta máquina) doutrina mais do que informa, propagando astutamente discursividades fragmentárias e favoráveis ao talhado arranjo da nossa perceção política e ideológica. Ela (esta máquina), e de um modo larvar, impinge um saber superficial, alicerçado em decididos factos e opiniões, que adiante move e moverá úteis juízos de valor pragmaticamente convenientes, convertendo assim tal engenho num eixo axial do andamento democrático.

Tendo presente que o poder desta maquinaria informativa, em síntese, opera em dois relevantes domínios, ou seja; (1) no da descodificação e interpretação dos factos e, como tal, nas implícitas sugestões veiculadas no campo das análises e leituras politico-ideológicas e (2) no dos sistemas de representação estruturados quanto à compreensão da realidade, com o consequente impacto no campo da crítica social e política, aqui deixo para inquérito o seguinte e premente enredo; até que ponto este ordenado poder, que entre nós e a realidade, opera, se faz (ou não) hoje um mastodôntico território simbólico, que nos vem afiliando (ou não) ao teatral divórcio ante a materialidade objetiva da nossa concreta experiência de vida, dos nossos interesses reais, recolocando no lugar destes alienantes considerandos embelezados pela lógica consertada e domesticadora demarcada pelas conveniências dos respetivos mercados? Na minha modesta opinião, a somática colagem dos media aos interesses vantajosos destes últimos proveitos, tem vindo, creio eu, a instigar o incremento da insurgência antissistema e, como tal, a tornar-se numa silenciosa e pérfida parceria, fonte significante deste generalizado, mas perverso populismo crescente. Estarei eu a ser descomedido nesta alarmante, embora pessoal inquietação?

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