quinta-feira, agosto 09, 2018

É UMA QUESTÃO DE TEMPO, DIZ O PROFETA DANIEL


DPCO que se pode esperar deste profeta, de insuspeita imparcialidade, quando se apresta em porta-voz de uma deidade categórica? Dele, ouso nada dizer. Apenas desafio quem desconhece os meandros das suas profusas e multifárias mercancias, que busque os seus rastros e pegadas. Em particular, nos recessos esconsos dos matizados poderes que, ao arúspice Daniel, lhe parecem valer. A si, se alguma intenção tem de melhor o conhecer, os media nada, ou coisa alguma de essencial, lhe revelarão, tal como os amigos a quem ele serve ou de quem ele se serve. O comum do cidadão, amigo ou não, mas seu próximo, talvez se quede em um desacautelado e disseminado estado de vegetativo senso comum. Embora ainda que nada disso lhe aparente, patavina lhes peça também. O “divino, afinal, poderá estar em si. Quem sabe, na sua demorada e laboriosa diligência. Talvez assim se safe ao visionarismo deste sábio predestinado a epifanias escatológicas apadrinhadas por misteriosos e bem-acondicionados segredos. Escreve ele[1]:

“… as corporações do Estado agitam-se em reivindicações e multiplicam-se as reclamações sobre insuficiências de investimento e dotação na saúde, na educação, na ciência, na cultura, na justiça, nas polícias, nas Forças armadas”, sem “um minuto de reflexão sobre a dimensão da nossa dívida pública e privada, nem o peso dos impostos que recaem sobre os que produzem, vendem e exportam para sustentar o Estado”. É uma questão de tempo, diz ele. E acrescenta; o PCP e o BE “… vivem num tempo que já não existe e num mundo que caminha indiferente ao que eles pensam e advogam”, não poupando os sindicatos, afirmando que são uma “base sindical … fora da realidade”.

Não obstante, o profeta Daniel talvez esteja certo na sua predição futura, presumo já muito próxima de factual efeito. Como amplamente se reconhece, enquanto a esquerda sobrevive através das ideologias, a direita vai alcançando, com muito trabalho e exsudação, as convenientes verdades. Aqueles devoram-se em utopias, estes, pragmáticos e proficientes, promovem a responsabilidade de ordenar. A realidade é com “ELES”, já que os primeiros se perdem nos odiosos interesses corporativos e “ESTES”, pois, cuidam do interesse geral. O bom tempo está, anuncia o profeta, a caminho, graças a Deus, a caminho do seu termo. Finalmente, que alívio será, exclamaremos todos nós. Na verdade, já ninguém ouve o PCP, do BE só se fala porque existe ainda o Robles, e os sindicatos, esses, fora da realidade, prontamente decidiram emigrar para outras galáxias. Até que enfim, a paz vai descer à Terra, trazendo com ela a Igualdade, a Justiça e a Verdade. O profeta Daniel, afinal o prenunciado mensageiro que nos faltava, e que tanto desejávamos veementemente, disse. Logo, está dito. O Futuro não é já esperança. Ele está aí.


[1] Reprodução de citações  de Sandra Monteiro, no Le Monde Diplomatique (agosto 2018), no seu texto “Na construção do senso comum”.

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