domingo, outubro 21, 2018

OS BEIJOS NO MERCADO DA IDIOTICE


bebe-mandando-beijoDesenvencilhem-se desta mercancia aparvalhada, afamada ou ingénua, e, em consequência, não a receiem. Em comum liberdade, beijai-vos, tocai-vos, enlaçados pelo afeto, pelo amor, pelo prazer. O tempo e a circunstância da ocasião determinarão a justeza da razão do gesto e da sua verdade. A necessidade do agasalho, aliás uma rebelde tendência instintiva, como é sabido, persiste para além do colo da mãe. Embora mais cuidada e socializada, provavelmente menos pulsional, a raiz do princípio perpetua-se. Os objetos substitutos respeitam, deste modo, e nesse novo tempo, a genealogia dessa necessidade primária, agora e sempre conduzidas por uma busca indeclinável da assegurada homeostasia. Por isso, e por sensibilidade, tenho por divisa não pressionar, ou aprovar, que obriguem uma criança a cumprimentar, beijando. O instinto dela, expressa na sua pura e genuína vontade é, assim, por mim fundadamente estimado. Pelo respeito que experiencio pelo insondável cadinho materno dessa inicial e referida relação primária. Seja a criança familiar próxima ou uma não-familiar mesmo que chegada. A formação da consciência de uma criança não abençoa, dizem os entendidos, o distorcer desse seu conforto, desse seu aconchego, dessa sua humana instintividade. A obrigação imposta, por ela ainda não reconhecível, por via da inerente coerção, faz-se mais uma semente de má-consciência culpabilizante - e não uma consciente formação desejável -  que o arbítrio educacional reforça, ou saberá acalentar, pela ameaça do sermão na sua continuidade normalizadora. A liberdade, acredito que sensatamente, não dispensa o ambiente de alteridade que a acompanha. Ela, a liberdade, educa-se nessa irrecusável clave mediadora que é a hermenêutica da alteridade. Por isso, impõe-se não simplificar as raízes do quotidiano que alimentam a figura epistemológica da conflitualidade interpretativa. A possibilidade de tal verdade exige acerto, distanciamento e profundidade, sobretudo moral. Concluo, então, que o disparate sempre insulta, e a lisura, apesar de tudo, nem sempre desagrava.

Foto retirada DAQUI

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