As coreografias, hoje, mais do que ontem, crescem em número e matizam-se em subtileza. Em peculiar harmonia com as faltas temidas e a urgência da fantasia. A insuportável pequenez, se pode, mostra-se superior; se não, cresce diminuindo os outros. As músicas do grotesco exagero, ou da perversa dor de cotovelo, acompanham o bailado do artifício. À magia carnavalesca dos primeiros pode exibir-se, todavia, a torpeza dos segundos. A vulgaridade não serve e dela o dançarino se livra. Pela imaginação, da ilusão ou da ansiedade. O outro, o circunstante, que se cuide então. Ou reconhece o dançarino, ou é maltratado. A realidade está no palco e a verdade na sua dança. Na arte de convencer, ou melhor, no engenho de se provar. Não aceita não ser admirado, pois é do dançarino que se fala, quiçá o maior e o melhor. Logo, deseja ser amado, reconhecido na sua perfeição. Ele está acima de todos os outros. Governado pela fantasiosa certeza ou falta dela. Desvariando, ou diminuindo os outros. Com os outros na cabeça, esquecendo-se de si próprio. Continuadamente, recriando miudezas onde a dissimulação se atrele. Cuidando dos azares, a culpa reside sempre perdida, ou morando já ali na casa do vizinho. O (desa)tino, esclarece-se, então, como o mote em palanque. O dançarino, afinal, não se esquece de si próprio. Ele espelha, nos seus irretocáveis movimentos, a sua própria negação.
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