A esperteza com facilidade desliza no campo do concreto e nele é reconhecida. A inteligência, por sua vez, apresenta-se pronta a abraçar outros limites que ultrapassam o exercício funcional. Todavia, nem sempre os conceitos são reconhecidos nas suas naturezas e dimensões diferentes.
A esperteza afirma-se com facilidade nas agilidades
exercitadas, mais pragmáticas e orientadas para resultados imediatos do “saber
fazer”. O valor do seu instrumentalismo adentra-se nos meios para atingir fins,
cuidando do seu desempenho e proveito. A inteligência, por sua vez, alarga as
fronteiras do seu percurso, acolhendo as múltiplas influências da reflexão. Ao
envolver a consciência no processo do pensamento crítico, abstrato, teórico,
ético e criativo, atinge-se um domínio cognitivo superior, mais exigente, capaz
de espelhar adversidades que merecem ser consideradas.
A inteligência não se limita à mera resolução de problemas
do cotidiano. Avança para o entendimento baseado em princípios universais,
assentes em teorias consolidadas e em conceitos competentes capazes de
legitimar e questionar o status quo. Trata-se, sim, de um processo contínuo de
autocrítica com a capacidade de adaptação a diferentes contextos e à exploração
de diferentes formas de conhecimento, incluindo, sem reticências, o filosófico
e o cultural.
A esperteza joga com a eficácia imediata, a inteligência aposta no processo dialético e reflexivo, ambos procurando alcançar uma compreensão que as esclareçam e justifiquem. Todavia, as aplicações das soluções encontradas são distintas, quer nas causas identificadas, nos significados assumidos e, sobretudo, nas implicações consequentes. A relevância da inteligência, sem desconsiderar o propósito da esperteza, afirma-se pelo que abarca nos domínios da cultura, da ética, da moralidade e da estética, domínios secundários ou ignorados pela pragmática esperteza.
A inteligência não dispensa uma compreensão mais profunda da
cultura e da sua capacidade de conviver com as complexidades das diferentes perspetivas
culturais e sociais, enriquecendo uma visão mais ampla do mundo, além das
necessidades imediatas ou das soluções rápidas. Em síntese, diria que enquanto
a esperteza é uma destreza voltada para a ação correta e a solução rápida de
problemas, a inteligência é uma qualidade que transcende a imediatidade e
abrange uma capacidade de reflexão mais ampla, filosófica e cultural, que se
orienta pela compreensão dos princípios pressupostos à realidade e ao
comportamento humano. A inteligência não se limita à eficácia, pois se dedica a
explorar os “porquês” das coisas, explorando assim suas profundas dimensões.
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