A ignorância já não é falha, tornou-se uma cultura da
habilidade política dos tempos de hoje. Não saber, ou fingir não saber, serve a
quem detém ou procura poder. Como nos alerta Manuel Sans Segarra, a ignorância
é um produto de construções que, sem ruído, nos alienam da razão comum.
Entender o manejo económico, o vocabulário jurídico ou o
teatro do juízo político é hoje um requinte e uma intimação. Por isso, o que
não se explica não é erro, mas, quiçá, um método. E quem habita, perturbado, o
tempo de hoje não se queixa, pois, dos danos, não enxerga as causas. Assim,
tudo persiste misterioso, embora de modo apropriado e indolente.
A cultura política não rompe do acaso; requer plantio,
pensamento e diversidade. Mas o que nos sobra é unicamente ruído. A escola
destaca competições, a comunicação estonteia e o debate engraça-se num teatro
de agitáveis opiniões. A ignorância encena-se, silenciando o saber que
interessa.
Assim sendo, a ignorância facilmente se acomoda, debilitando a democracia ao convertê-la num ritual sem alma - cenário, aliás, ideal para quem não quer ser julgado. Pensar é resistir, saber mais para impedir o projeto da indiferença que nos quer apáticos e inativos. Combater a ignorância torna-se um gesto político essencial e, hoje em especial, talvez o mais urgente e profícuo valor da Liberdade.
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