quarta-feira, julho 30, 2025

NOTAS SOBRE O CAOS (3)

"A arte de viver é, dizia Quintana, a arte de conviver. Simplesmente …" , disse ele. Simplesmente.

Mas o que é hoje conviver? É gritar ao lado de alguém que ouve música sem auscultadores no metro? É atravessar a rua sem ser atropelado por um zombie digital? É tentar manter uma conversa com quem sonda o telemóvel entre cada frase?
Conviver é agora um espetáculo de mal-entendidos sincronizados, cada um afogado no seu feed, perdido entre memes, fúrias instantâneas e vídeos de gatos que nos explicam a vida. A arte de viver passou a ser a arte de sobreviver ao caos suave e pegajoso da distração permanente. Conviver com alguém, hoje, é competir com o telemóvel pela atenção, e perder sempre. Há quem diga que vivemos conectados. É falso. Vivemos capturados. Capturados por um dispositivo que nos promete o mundo inteiro e nos rouba o rosto de quem temos à frente. Simplesmente, disse Quintana. "Mas como é difícil, Mário. Como é impossível, agora."

Sem comentários:

Enviar um comentário