"A arte de viver é, dizia Quintana, a arte de conviver. Simplesmente …" , disse ele. Simplesmente.
Mas o que é hoje conviver? É gritar ao lado de alguém que ouve música sem
auscultadores no metro? É atravessar a rua sem ser atropelado por um zombie
digital? É tentar manter uma conversa com quem sonda o telemóvel entre cada
frase?
Conviver é agora um espetáculo de mal-entendidos sincronizados, cada um afogado
no seu feed, perdido entre memes, fúrias instantâneas e vídeos de gatos que nos
explicam a vida. A arte de viver passou a ser a arte de sobreviver ao caos
suave e pegajoso da distração permanente. Conviver com alguém, hoje, é competir
com o telemóvel pela atenção, e perder sempre. Há quem diga que vivemos
conectados. É falso. Vivemos capturados. Capturados por um dispositivo que nos
promete o mundo inteiro e nos rouba o rosto de quem temos à frente. Simplesmente,
disse Quintana. "Mas como é difícil, Mário. Como é impossível, agora."
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