terça-feira, agosto 26, 2025

O INCONSCIENTE E AS NOSSAS IDIOTICES

Todos temos problemas, mas não é mau insistirmos em tê-los: uns inevitáveis, outros necessários, alguns até fecundos, pois forçam-nos a crescer. Mas há também contratempos insólitos, aqueles que não nos acontecem, mas que persistimos em cultivar. Curiosamente, viver parece exigir essa estranha necessidade de complicar a própria verdade. No entanto, o valor humano da simplicidade continua a ser uma lição esquecida: viver pode ser, também, aprender a clarear o que complicamos, a deixar que a vida seja menos intrincada do que a nossa mente deseja.

O nervo da psicanálise, todavia, avisa-nos de que tais achados não são, de todo, indiferentes. Essas criações assinalam a persistência do inconsciente em nos prender naquilo que não compreendemos de nós mesmos. Assim, o estorvo imaginado não é mera idiotice, mas antes a encenação de uma disputa íntima que busca juntar o hábil artifício com o encenado jogo do desejo e do medo. Reconhecer este vício de jogar pode ser, evidentemente, o primeiro passo para regenerar a tolice em consciência, procurando, tanto quanto possível, dar-lhe um sentido mais enraizado.

É bom entendermos que muitos dos nossos problemas são inventados, fruto dessa estranha e imbecil necessidade de complicar. E talvez a grande sabedoria resida, afinal, em reaprendermos a simplicidade, não a do simplismo ingénuo, mas a da clareza que nos devolve ao essencial.

Sem comentários:

Enviar um comentário