quarta-feira, agosto 27, 2025

SIM, SIM! A COERÇÃO DAS CONDIÇÕES SOCIAIS

Prolongo, com toda a satisfação, a leitura de Porque sou COMUNISTA, de Pedro Tadeu. Aqui sublinho, em particular, a afirmação de que “os heróis e os vilões podem existir, é claro, mas são consequência e não causa”, pois encontro nela algo que me ajuda a compreender melhor o fundamento do chamado materialismo histórico. O que aqui se exprime, assim deduzo, é a ideia de que a história não se reduz a sujeitos isolados, mas sim à disputa permanente das contradições sociais e das lutas de classes. Os protagonistas podem destacar-se, mas o seu papel ganha sentido apenas nas entranhas das condições materiais e sociais mais vastas, que lhes entregam a possibilidade de agir ou de se impor.

Esta perspetiva tem, para mim, algo de essencial: retira peso à tendência - tão comum, aliás - de reduzir a explicação da história a responsáveis ou a libertadores, submetendo à consideração um olhar mais total, evidente e realista. Relembre-se que Napoleão não criou sozinho o Império, Salazar não inventou o Estado Novo, assim como as figuras que admiramos só emergem porque há, atrás delas, lutas e aspirações coletivas que exigem a sua presença.

Não pretendo, porém, negar de todo o relevo da ação individual, pois o materialismo histórico não é um determinismo cego. O que ele revela é que a força dos indivíduos depende sempre da rede de contradições e forças sociais em que se apoiam e atuam. É nesse entrelaçado que alcançam eficiência e poder ou, pelo contrário, se tornam inofensivos.

Por isso, convence-me a exposição de Pedro Tadeu ao deslocar o foco da culpa ou da glória pessoal para as estruturas sociais, relembrando que compreender a história é apreender as forças que a moldaram e continuam a representar o nosso presente. É, pois, claramente através dessa interpretação que se vai descobrindo e encontrando um olhar mais sereno e esclarecedor, ou seja, um olhar que não se perde em vilões e heróis, mas se orienta na alteração das condições que os tornam possíveis. Em síntese: um olhar diferente, que nos compromete com a verdade do real.

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