A linguagem nunca é apenas um espelho da realidade. A psicanálise mostra que nela ressoa o desejo, esse motor secreto que nos move sem que dele tenhamos pleno domínio. O sujeito fanfarrão julga falar em nome da sua convicção, mas o seu dizer evita sempre o que não lhe convém. É nesse intervalo - entre o que pensa afirmar e o que recusa deixar ouvir - que se revela a dissonância própria do exercício da liberdade.
Todos sabemos que não há liberdade que não seja atravessada
por equívocos, deslizamentos e restos de desejo. A convicção de ser livre
confunde-se, assim, com a marca inconsciente de sermos falados pela língua que
nos constitui.
Nos tempos que correm, a retórica da direita radical
veste-se de convicção, mas encobre a sua falsidade: entre a convicção e o
equívoco, a sombra do desejo afunda-se na petulância de um discurso que trai,
em nome da democracia, a própria ideia de liberdade. A convicção simulada,
entranhada na incoerência, busca apenas ecos de um humano desatento, embora
legítimo. Cuidemos, então, dos nossos verdadeiros desejos…
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