ANTES CLONE DO QUE COLONO
O Fixe Mário é europeísta convicto e, sobretudo teve a arte e o engenho, quem diria, em ser dos primeiros a denunciar os perigos da desagregação europeia em virtude desse desditoso neoliberalismo que, segundo ele, está na origem da crise global e está longe de ter passado. Profetiza o Fixe Mário, com aquele ar de avô bonacheirão com que, vezes sem conta, diverte os simplórios mais desatentos.
Imagem obtida em A Especiaria: A ESTRANHA LUCIDEZ
Apesar de tudo, o Fixe Mário não deixa de se exibir um entusiasta do projeto europeu porque, para além de outras bondades, o projeto prometia e comprometia-se a respeitar em absoluto a justiça social com direito aos cuidados de saúde, tendencialmente gratuitos, ao ensino, para todos, e à segurança social, na doença e na velhice, criando assim verdadeiras sociedades de bem-estar, como nunca tinha havido, em parte alguma.
Mas os portugueses, como sempre abusadores, convenceram-se de que pertenciam, definitivamente, ao chamado primeiro mundo e começaram a viver acima das suas posses, como se alguém lhes tivesse, alguma vez, segredado tamanhos benefícios. Mas o mundo evoluiu e atraiçoou o Fixe Mário desacautelado. Não se sabe bem se chorou ou chora e porquê, o colapso do universo comunista, que reputa de um colossal embuste que instou, não se sabe se bem ou mal, os regimes do Leste europeu a converteram-se em democracias e, atrevidamente, a quererem integrar-se na entusiasmante e prometedora União Europeia.
Mas o Fixe Mário surpreende e dá-nos a aperceber o que ainda não tínhamos enxergado. É que derrubados o Muro de Berlim e a Cortina de Ferro, a América do Norte transformou-se em hiperpotência mundial, verteu-se finalmente em "dona do mundo" e dado o seu imenso poderio militar e económico, quiseram impor à Europa a sua ideologia neoliberal, que em 2008, conduziu à crise global e, em vésperas de eleições, tanto preocupa o Fixe Mário.
A tudo isto acresce um problema, que só a pertinácia política do Fixe Mário permite aclarar; a colonização dos partidos socialistas e democratas cristãos pelo neoliberalismo. E porquê? Pela simples mas infeliz circunstância de, entre os 27 Governos europeus, 24 serem hoje ultraconservadores, completamente indiferentes aos valores do projeto europeu. E é esta a única, simples e infeliz circunstância que está a corroer a União Europeia e a encaminhá-la, tristemente, para a sua desagregação. Este dado esclarece e justifica, finalmente, a resistência de Sócrates; antes clone do que colono.
Ora, o Mário é mesmo fixe e, neste horizonte cinzento, anuncia a esperança de que os povos europeus despertem e reajam, não contra as políticas, mas contra a falta de solidariedade dos Estados mais fortes da União, destilando uma venenosidade particular para os finlandeses que estão convencidos de que são os mercados especulativos e as criminosas agências de rating que podem destruir nações, com quase nove séculos de história independente, como Portugal... Que ilusão tremenda, sossega-nos o Fixe Mário, quando todos nós pensávamos ter perdido já … a nossa soberania.
Mas, na semana passada é que foi horrível quando, lembra entristecido o Fixe Mário, à beira do abismo, Portugal foi obrigado a pedir um apoio de 80 mil milhões de euros, sendo incrível como a Europa e os Estados Unidos se deixem guiar pela ganância dos mercados especulativos, esses malandros que estão na origem da crise que nos afecta. Bem pior, no entanto, verifica o Fixe Mário é que o ataque dos mercados contra Portugal surgiu num mau momento, com o conluio dos partidos da oposição, que se uniram à direita e à esquerda do PS, todos, sem exceção, para derrubar o Governo do clone Sócrates, o tal que rejeita ser colono. As oposições revelaram, assim e perante o País, profetiza descrente o sábio Fixe, uma demonstração de irresponsabilidade e de insensatez que lhes irá custar caro.
Neste sentido, o Fixe Mário não desiste e combate a sua própria descrença, a favor não se sabe de quem …, fazendo votos que as negociações que o Governo vai liderar corram bem. Para tal, aconselha os dois principais partidos - o PS e o PSD – ao entendimento, abandonando, como convém a favor não se sabe de quem …, as querelas eleitorais. Sem recorrer a subtilezas, o adulador e sempre fixe Mário, afaga o eleitorado português que sempre deu mostras de sensatez, sentenciando que quem mais propaganda eleitoral quiser fazer, neste período, mais perde. Ou seja, o Fixe Mário, em termos pedagógicos, adverte que não estamos em tempo de críticas ou de denúncias mas da clonagem necessária e, sobretudo, responsável.
Paternal, o Fixe Mário, ao mesmo tempo que elogia o PP que tem estado, sabiamente, calado, envia as alfinetadas que esvaziam o balão do aplauso. O PP, para o Fixe Mário, ainda não percebeu, com razão, de que lado correm os ventos do poder. E como quer um pouco do poder, não sabe ainda com qual dos dois deve iniciar o negócio. Quanto aos restantes, nem vale a pena pensar porque, esses, já se auto-excluíram do jogo do poder e nunca apreciaram o projeto europeu, o tal projeto que, pelos vistos, caminha a passos largos para a catástrofe, segundo o Fixe Mário.
No entanto, a essa ideia originária mas pouco original, importa acrescentar mais argumentos e embrulhar os partidos de mero protesto nos fantasmas do raquitismo ideológico. Com a simplicidade que o caracteriza, o Fixe Mário premonitório sabe o que o eleitorado não percebe o que querem os que não contam. Voltar ao PREC? No atual momento europeu e mundial? Não lhes basta o exemplo de Cuba, que tanto apreciaram sempre, o país mais triste e empobrecido da Ibero-América? Sublime e imprevisível, este Fixe Mário.
Depois, mais alguns beijos e abraços, sem imposturas, aos parceiros sociais, que são extremamente importantes e à sociedade civil, que se tem manifestado em favor do entendimento dos partidos (os incluídos) para superar a crise em que estamos. O Fixe Mário descobre, finalmente e ao fim destes 37 anos de democracia, que é importante que os parceiros sociais e a sociedade civil ensinem os partidos a dialogar uns com os outros e a pôr fim às agressões mútuas em que se comprazem neste triste e persistente deleite do exercício do poder e das suas benesses.
Numa situação tão crítica, que a comunicação social infelizmente, nem sempre bem comportada, tem empolado de todas as maneiras, é preciso piscar o olho ao povo confiando nele e prometendo-lhe, como sempre o PS tem feito e fará, … esperança no futuro. E como pudéssemos ser injustos para quem tão bem nos tem governado, o Fixe Mário convence-nos de que o que conta são as pessoas. E estas vão reagir e vencer os desafios que se lhes põem. Como a União Europeia, no seu conjunto. É uma questão de tempo. O Fixe Mário já se meteu à estrada a mendigar votos, não vá o diabo … do POVO … tecê-las.
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