A agenda dos nossos problemas oscila de forma descomedida de acordo com circunstâncias e interesses onde a intransparência constitui o entretenimento mais irritante para o cidadão comum. A exasperação agudiza-se quando esses problemas são apresentados com uma frequência inusitada encapotados por discursórios pragmáticos ou técnicos indecifráveis, por vezes acompanhados por obscuras retóricas políticas mas raramente são, o que não deixa de ser estranho, mostrados como obrigatoriamente doutrinários. A desordem anuncia-se nesta lógica obtusa, como convém, concordante com as variações que as ditas circunstâncias avisadamente aconselham a quem bem nos governa e pretende prolongar tal governança. Em certos momentos vocifera-se sublinhando a triste desordem política, noutras ocasiões brada-se denunciando o desarranjo financeiro mas, amiudadamente, faz-se emergir a indignação pelas desventuras económicas e descarrega-se a bílis à aversão brava e ingénita pelas “balbúrdias” sociais.
Neste tempo político actual, confesse-se que ainda bem curto, a mudança de caras na governança tem disso sido, pelo burlesco, paradigmático. A quietação envolvente que uma comunicação social neutra, amansada e optimista procura transmitir é, em si, um pretenso mas esclarecedor sinal de embaraços já galgados que o cidadão comum, estúpido, não sente nem pressente. O País sossegou, vejam só, por que o arrogante e convencido Sócrates foi de abalada para Paris prometendo, nos tempos próximos, regular o seu silêncio ocultando-se nas brenhas da filosofia. A economia, num átimo, recuperou ânimo e, com este ganho destapou perspectivas críveis que, com a ajuda esperançada dos e nos sindicatos, promete fazer da acalmia social uma certeza necessária já felizmente próxima.
Como se pode depreender, por exclusão de partes, o essencial da crise está, como coisa sobrante, na relação milagrosa dos dinheiros com a engenharia achada dos seus créditos, expressa na prestante ajuda solidária e competente da troika e com a anuência inequívoca de cerca de 47% do eleitorado português. Doravante, neste caridoso quadro, resta-nos metamorfosear os protestos sociais, dos mais vivos aos vulgarmente acanhados, em merecidas propostas de louvores ao Coelho, ao Barroso e, com mérito acrescido, à Merkel e ao simpático Sarkozy, não esquecendo o Paulinho democrata e, pelos vistos, cristão que não é exactamente, faça-se justiça, o Paulinho inveteratus beijador das feirantes.
E tudo isto, porquê? Porque os pobres são difíceis de contentar, os malandros calaceiros não têm emenda e os trabalhadores espreguiçam-se em demasia nos estofos da desqualificação e da incompetência, sugando o tesouro público para o qual apenas contribuem com a toxicidade e irresponsabilidade dos seus desvarios. Por isso, o coração do sistema não se pode entregar à esfera promíscua da produção onde aqueles vegetam mas, ao contrário, confiá-lo ao sentido ético e competente dos financiadores, garantes idóneos e incontornáveis de um ambiente económico socialmente promissor e saudável. Os madoffes são fantasias, as actividades criminosas dos offshores invenções e as dívidas de risco e especulativas na busca de dinheiro que não custa a fazer ou as engendradas pelas múltiplas donas brancas são meras induções sórdidas de gente ociosa que nada mais faz do que atrapalhar quem dá o corpinho pelo bem comum. Abaixo as ideologias. Viva a NÃO-IDEOLOGIA …
Imagem retirada do Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho
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