quinta-feira, junho 09, 2011

NÃO SOU EU QUE O DIGO

 

Economia Moral Política

Comprei na semana passada, um pequeno livro dos ENSAIOS DA FUNDAÇÃO (Fundação Francisco Manuel dos Santos), intitulado “Economia, Moral e Política”, escrito por Vitor Bento, homem licenciado em Economia e mestrado em Filosofia que ocupou, ao longo de uma intensa carreira profissional de 38 anos, diversos cargos de reconhecida responsabilidade pública e empresarial, tendo sido nomeado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, membro do Conselho de Estado, em substituição de Dias Loureiro. Tratando-se de alguém que se situa num espaço político e ideológico diferente do meu, mais estimulou o meu interesse pela sua leitura.

Confesso que li a introdução e, de imediato, passei ao último capítulo que, de forma simples mas clara, tematiza A recente Crise Financeira Internacional. Pretendo neste breve texto dar conta dos factores por ele referidos como sendo as causas mais relevantes desta crise que começando por emergir no sector financeiro, não é possível, ainda hoje, conhecer em toda a sua extensão. Refere o autor que embora os factores financeiros apareçam como as causas mais comummente apontadas para a origem da crise, várias outras, económicas e sociais, concorrem para o desenlace.

 

Neste enunciar de factores causais da crise, dois deles chamaram a minha atenção. Começo por referir a bolha especulativa que, Vitor Bento, caracteriza como um processo típico de “loucura colectiva, desencadeado quando um período de prosperidade funda comportamentos baseados em expectativas adaptativas de falsa valorização de activos que vai gerando uma incomensurável riqueza artificial até ao pânico que origina o crash final. De quem é a culpa? De modo sucinto, ele responde:

§ Dos reguladores, que não viram a tempo, e por isso não preveniram, as condições que alimentaram a insustentável inflação dos activos;

§ Dos bancos centrais, que mantiveram taxas de juro excessivamente baixas por demasiado tempo, favorecendo o enchimento da bolha;

§ De gestores e profissionais pouco escrupulosos, que criaram e venderam gato por lebre, acreditando, ou fazendo acreditar, numa nova alquimia;

§ De teóricos que acreditaram e levaram outros a acreditar na infinita capacidade auto-reguladora dos mercados;

§ Dos que descuraram a Macroeconomia e a gestão macroeconómica

§ Dos especuladores, não só os ricos e gananciosos mas também das suas próprias vítimas que puseram de lado a prudência e assumiram riscos excessivos, apostando a segurança do futuro no conforto do presente.

O outro dos factores que pretendo mencionar e também citado, como é óbvio, por Vitor Bento, remete-nos para o Funcionamento do Sector Financeiro e para as três causas a ele directamente associado.

§ 1ª causa – O crescente distanciamento da realidade tangível em que assentou o explosivo crescimento financeiro, sabendo que o papel económico fundamental deste sistema é intermediar, entre aforradores e investidores, a utilização da poupança e distribuir riscos. Dois aspectos são, assim, sublinhados como condições para o êxito desta intermediação; é necessário, por um lado, que os utilizadores de fundos lhes assegurem uma aplicação suficientemente reprodutiva, aumentando o potencial de produção futura e, com ele, a capacidade de conversão dos direitos de saque sobre ela existentes. Por outro, que a criação de activos financeiros se vá aumentando em linha com o crescimento do potencial de produção. E o que aconteceu, então? Vitor Bento responde: por um lado, um crescente desvio, para fins não produtivos, dos fundos disponibilizados pelo sector; e por outro, um desmesurado crescimento do stock dos activos financeiros, através de um processo de multiplicação de direitos de saque sem qualquer sustentação na realidade sobre a qual são sacáveis. Assim surgiram os conhecidos “derivados financeiros”, a inflação da percepção da riqueza e a desproporção que os esquemas regulatórios deixaram inchar até à sua implosão estrondosa.

§ 2ª causaA arrogância epistemológica proveniente do quadrante ideológico liberal que, reproduzindo a arrogância dos economistas socialistas … tentaram demonstrar, através de um conjunto mais ou menos numeroso de equações matemáticas, que seria possível conseguir uma afectação dos recursos mais eficiente do que o mercado.

§ 3º causa – Vitor Bento defende o princípio de que a eficácia do mercado enquanto regulador económico pressupõe, além do comportamento racional dos seus agentes, a sua atomicidade. Esta assegura a existência de uma diversidade de interesses, objectivos, visões e expectativas, em confronto permanente, para que se produzam equilíbrios razoáveis e não enviesados. Neste campo, o que aconteceu foi que, ao longo das últimas décadas, o modelo de funcionamento económico, e sobretudo no sector financeiro, foi construído assente em práticas inconsistentes com aquele princípio económico, com consequências tanto mais gravosas quanto mais globalizado o modelo se tornou. Deste modo, permitiu-se ou fomentou-se uma excessiva concentração das instituições financeiras e, por outro lado, promoveu-se uma padronização comportamental dos decisores, que, em geral, estudaram nas mesmas escolas, aprenderam a mesma doutrina, utilizam os mesmos modelos de análise e decisão, pensam da mesma maneira, reagem aos mesmos sinais, fazem as mesmas previsões e competem com os mesmos “benchmarks”.

ESCLARECEDOR !

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