sábado, novembro 26, 2011

A FALSA ÉTICA DA SOLIDARIEDADE

 

TraicaoNa revista “VISÃO” desta semana (24 de novembro), José Gil escreve um artigo de opinião intitulado “A solidariedade”, desenvolvendo o tema atravessando três aspetos que delimitam, na perspetiva apresentada, o acolhimento que autor aplica, nestas circunstâncias, à análise da referida problemática.

Num primeiro momento, começa por discorrer como a coesão social se instaurou como o “substrato mais primitivo da própria humanidade do homem”, retrocedendo às sociedades exóticas e arcaicas enquanto “ realidade(s) que compreende(m) unidades em que o indivíduo se funde num grupo mais vasto … que determina(m) o … lugar (do indivíduo) e o seu sentimento vital de pertença a um conjunto que define a sua identidade”.

Deste tempo histórico salta para “o advento da propriedade privada, da definição jurídico-filosófica do cidadão isolado nas teorias do contrato social e do Estado”, chamando a atenção para a longa história do “individualismo” que, nos tempos de hoje, “permite que nas grandes cidades se morra solitariamente num apartamento sem que durante meses ou anos alguém dê por isso”.

De seguida, aproxima-se dos tempos difíceis que vivemos, das crises – nossa e não só – e das inúmeras iniciativas que múltiplas entidades adotam no sentido de ajudar os mais carenciados, entre elas algumas empresas e bancos. Resguarda a relevância destes gestos de atenção ao outro, no plano da sanidade social, lembrando que a solidariedade não pode, no entanto, significar “caridade humilhante ou afirmação de uma qualquer supremacia social”.

É neste contexto que José Gil sublinha que um número significativo dessas atividades de assistência “se exercem sob uma falsa ética de solidariedade (que) escondem negócios inconfessáveis …”, chamando a atenção para a “… boa consciência (assim supostamente) adquirida a baixo preço, álibis de uma ´economia social` que, afinal, não transforma minimamente a economia real geradora das desigualdades que a primeira procura reduzir”.

Por fim, questiona a solidariedade económica e social hoje desenvolvida por toda a Europa, afirmando que ela “só se legitima se se desviar da tendência hegemónica do capitalismo global, considerando o outro não como alguém diminuído mas como alguém com o pleno direito de acesso a todos os direitos, inclusive ao direito de ser ajudado”. Por mim, acrescento a importância de apensar à denúncia a coerência da ação que ela espicaça. Em nome de uma humanidade necessária mas hoje arrogantemente atraiçoada.

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