segunda-feira, janeiro 09, 2012

UM REMOQUE AO “EU FASCISTA” DE ALGUNS DITOS LIBERAIS

 

compostA arrogância idiota sobre a definição da “normalidade” sempre foi um invento revertido, pelos poderes, em prerrogativa de elites burlescamente autoconvencidas. Venham elas da religião, da política e, pasme-se, de gente estúpida, embora dita ricaça, cuja inteligência, felizmente para todos nós, o dinheiro não consegue subornar. Este tipo de gente julga-se no direito, e outros ainda mais asnos, no dever de regular sobre o prazer dos diferentes para que a ordem social, que lhes dá palco e uma santa rotina, seja conservada.

A religião controla, os sacerdotes inspirados pelos seus deuses, ditam as normas de conduta. O saber laico, ao disputar o lugar do divino, dita práticas e valores. Destes, os entendidos, os comprometidos e os subvencionados, aos quais se juntam insolentemente outros ignorantes encartados, determinam sobre o normal e o patológico. A ideologia dita o caminho certo das pulsões dos outros e, com essas certezas, fixam as subjetividades que a outros cabem. 

Em cada momento sócio histórico se produz, assim, a subjetividade que presta vassalagem aos modelos identificatórios dominantes e culturalmente valorizados e, por arrasto, às sublimações significantes que lançam as bases para a definição social do conveniente desvio da normalidade que, numa penada, transforma as singularidades em anomalias e a espontaneidade numa estranheza que importa sociabilizar.

Para mim, as minhas angústias não constituem problema. Se fechei a porta de casa e volto atrás para confirmar que está bem fechada, não me sinto neurótico. Sinto-me bem e muito confortável com a minha vida. O mesmo, no entanto, não posso dizer da minha relação com o mundo. Gosto de beber, de rir, de chorar, de estar com os amigos e não me preocupo com esse mundo pulsional que me obriga, por dignidade, ao sarcasmo militante de desrespeitar, com um prazer desmedido, as ditas normas que sinto não terem qualquer força moral de vinculação. Sinto-me senhor em casa própria e, felizmente, com uma estimulante vontade de viver com a saúde psicológica e intelectual que, graças a um outro deus qualquer, me tem acompanhado nesta persistente rebeldia, estética, ética e existencial.

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