quinta-feira, janeiro 12, 2012

OS PÁROCOS, OS BISPOS E OS CARDEAIS DA NOSSA IGREJA MEDIÁTICA

 

addis-hands-cash-cartoon2Acabo de ler no “LE MONDE DIPLOMATIQUE” (12 de Janeiro de 2012 / versão portuguesa) um texto de Pierre Bourdieu intitulado “Como se fabricam os debates públicos”. Nele, Bourdieu começa por definir um homem oficial como um ventríloquo que fala, num contexto devidamente encenado, em nome do Estado, fala por todos e em lugar de todos como se fosse um representante do universal.

É neste quadro que ele convoca a noção de opinião pública, acrescentando que esta pode ser entendida como a opinião de toda a gente, da maioria ou dos que contam e são dignos de ter uma opinião. Conhecendo a nossa realidade, sobretudo mediática, facilmente concluímos que a opinião pública é, como ele diz, a opinião dos que são dignos de a ter como opinião esclarecida e merecedora de tal reconhecimento.

Sem qualquer pretensão de comentar a globalidade do texto de Bourdieu, sublinho apenas a ideia de que os opinantes obedecem a um processo de cooptação com base no que ele refere como índices mínimos de comportamento que são a arte de representar um determinado jogo e de respeitar as suas regras. Para esclarecer melhor a ideia, Bourdieu relembra a célebre frase de Chamfort que fala por si: “O pároco pode sorrir a uma frase contra a religião, o bispo rir abertamente dela, o cardeal acrescentar-lhe um dito seu”. Concluindo; o uso plástico das regras do jogo, inteligentemente aplicado pela “hierarquia das excelências”, não altera o jogo. Como remata Bourdieu, o humor anticlerical de um cardeal é supremamente clerical.

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