Importa alvitrar que a pornografia não se circunscreve ao universo da imprecação aos males atribuídos à sexualidade. O que marca a pornografia é a relação desigual entre poderes e dignidades que conflituam. Quando alguém não existe ou apenas existe para cumprir um papel de objeto de satisfação de pulsões agressivas de um outro, estamos provavelmente na presença de uma realidade (ou cena) pornográfica.
Quantas vezes nos perturbam, e nos fazem sentir profundamente incomodados, com o comércio abjeto do sofrimento dos outros e das suas desgraças e com outras tantas situações aparentemente banalizadas por um quotidiano denso de indignidades silenciosas e, sobretudo, silenciadas?
A tirada infeliz de Cavaco Silva é reveladora de um destes silêncios que se quebrou e se quebrou de modo infausto fazendo ele um uso pornográfico da sua situação pessoal num quadro de crise no qual ele não encaixa. Cavaco Silva, ele próprio, se desrespeitou. Embora lamente, confesso que não fiquei absolutamente nada surpreendido.
ANÍBAL retirado DAQUI
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