Pensar o que se pensa e faz (ou talvez o que não se pensa e não se faz, real e objetivamente) não prescinde (por muito que se queira) da viveza da dialética. Ao trabalhar-se a plasticidade dos limites com o propósito da sua superação, ao dar-se apreço à necessidade pelo valor que nesta se inscreve e, mais ainda, ao aditar-se finalidade à existência (que sendo sempre de alguém não dispensa os demais), cria-se mundo a um mundo que, insuficiente e distorcido, merece ser transformado para melhor. Afinal, a subjetividade não deixa de ser ao mesmo tempo limite e superação, necessidade e valor e, inelutavelmente, existência e finalidade.
A ética da responsabilidade (a todo o momento) previne para a inevitabilidade desta objetivação dialética e adverte também para o incumprimento (desconfortante) das obrigações próprias de cada um, do qual o quase todos se alimenta. Neste contexto e no quadro desta penetrante crise, apetece dizer que não chega hoje (talvez mais do que no passado) lutar por ganhar a vida mas, mais fundo ainda, importa o empenho firme em mudar de vida. Capturados pelo atavismo economicista (através dos seus pérfidos preconceitos) aldrabam-se os limites, alienam-se as necessidades e atraiçoam-se finalidades. A penosa evidência dos resultados é a vida que não se ganha e, sobretudo, a vida que não se alcança. O imerecido sofrimento silenciado (ou melhor, institucionalizado e mediatizado) não merece o respeito do dever e do exercício de cidadania. Dê-se assim voz (e uma consciência ativa) a este silêncio feito de um conformismo ingénuo e tolo mas deveras insalubre.
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