domingo, julho 01, 2012

DESENFARDAR A CONDIÇÃO DE SER

 

FOTOComo me deleito, por vezes, passeando o meu olhar dos centros para os arrabaldes, dos meios para os seus contornos, do medular para o contíguo. Clareando racionalidades que me são afastadas, desfeiteando as razões que me afadigam e libertando muitas das minhas loucuras recalcadas. Enfim, aproximando-me do expulso, privando com o minoritário, observando o divergente e enfrentando o ameaçador.

É isso. Olhares que me levem ao outro lado da minha história, aos lugares que me fizeram (e onde me fiz) mas não compuseram o essencial da geografia dos meus pensamentos. Olhares que esgravatem as insuficiências de experiências imperfeitas vivenciadas no desabrigo dos limites e tentadas no desconforto das fronteiras. Importa chegar lá. Ver e dizer coisas diferentes, possivelmente outras, para descobrir um saber distinto advindo dos lugares diversos desse outro conhecer.

Pensar o que penso (e sou) compromete-me a desandar no tempo e dar alma – não aos lugares – mas às circunstâncias que se fizeram marcas indeléveis desses meus lugares. Mais do que uma disposição, cuida-se de uma meticulosa arqueologia em que esquadrinho vestígios sumidos na consciência insatisfeita do que sou. Quero assim ser mais, mais nítido (sobretudo aos meus olhos) e, se forçoso, diferente de mim mesmo.

Olhares que me abram espaços de liberdade inventados pela pertinácia de quem se procura num diário partilhado de zangas e de teimosias afortunadas. Liberdade que me (e nos) retoca no pensar e me (nos) muda nos gestos em rota com outros. Olhares e liberdade que demudam sociabilidades outras que crescem de afetos e sensibilidades e que se adicionam e completam no húmus de um espírito reabilitado. Poderes que se descortinam surdos e intrusos na sorte dos desconhecidos que afinal contam. Uma nova possibilidade de pensar a cultura (e a vida) e sondar os espaços que definem e me devem (por inteligência e integridade) socorrer à reinvenção do meu humano.

Foto retirada DAQUI

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