Ao folhear o “Le Monde diplomatique” (Edição Portuguesa) de agosto de 2012, dele anoto três simples apontamentos de uns tantos escritos distintos.
1ª nota (A lei dos bandidos)
Serge Halimi alude em artigo que, todos os dias, o nível da Libor é estipulado por uma vintena de grandes estabelecimentos financeiros e que este ajusta o padrão a transações num montante de 800 biliões de dólares, empreendidas particularmente no mercado dos produtos derivados, acrescentando: “Os montantes em causa são de tal forma faraónicos que encorajam a imprensa não financeira a concentrar sua atenção em pecadilhos, mas de escala humana, dos pais que recebem abonos de família sem garantirem a presença dos filhos na escola aos assalariados gregos que completam os seus magros rendimentos arranjando trabalho não declarado. Para estes está reservada a ira dos governos e do Banco Central Europeu”.
Pois então, não mandar os filhos à escola e ainda por cima acumulares? Dá de frosques e porta-te mas é bem…
2ª nota (Universidades, 20 anos depois)
Sandra Monteiro menciona, por sua vez, que a composição da estrutura social do ensino superior tem vindo a sofrer, nos últimos anos, uma forte elitização. E os números avançados são (por si) elucidativos. Assim, 9, 9% da população portuguesa de rendimentos mais elevados, em 1994/95, ocupava 14, 4% dos lugares. Em 2010/11, essa percentagem subiu para 38,2%. Por outro lado, no que concerne à classe média, constata-se o inverso; em 2004 eram oriundos dessa camada 74,1% dos estudantes, em 2010 essa percentagem baixa para 43,8%.
Olha, olha! Escola para todos? Não querias mais nada? Vai mas é trabalhar, malandro, para saberes o que é a vida…
3ª nota (Jovens jornalistas: entre o sonho e desesperança)
Liliana Pacheco ao debruçar-se sobre o desemprego e a precariedade dos jovens jornalistas também nos dá alguns números esclarecedores. Dá-nos a conhecer sobre o sector dos media em Portugal que, entre 2008 e 2011, o mercado de publicidade no nosso país perdeu quase 200 milhões de euros, o que significa uma quebra (nesse período) de 26%. Desta contração, estima-se que, entre 2006 e 2010, as empresas dos media em Portugal tenham perdido cerca de 500 trabalhadores. Tendo presente estes números e um quadro progressivo “de concentração de cada vez mais órgãos de comunicação em cada vez menos proprietários”, é fácil de perceber que é complicado, no plano deontológico, um jornalista argumentar com quem por esses deveres e regras não se governa. Mais fácil ainda será entender que a dificuldade do jornalista cresce à medida da precariedade do seu vínculo laboral.
Em jeito de síntese, vale a pena citar a última das suas considerações:
“Se a precariedade se constitui como um problema grave nos nossos modelos de trabalho e em todas as profissões, no jornalismo acarreta ainda maiores consequências, já que põe em causa o princípio da liberdade de imprensa. Esta não deve ser encarada como um privilégio dos jornalistas, mas como um meio indispensável à garantia da liberdade de expressão e do direito dos cidadãos a uma informação livre e independente”.
Atina-te, ó palerma. Liberdades e direitos têm preço. Se não sabias, ficas a saber. Põe-te a milhas e deixa-te de retóricas…
Como é óbvio, muitas outras notas poderiam ser acrescentadas a estas que, escolhidas apenas por serem de campos e de natureza diferentes, não deixam (no entanto) de constituir sinais de uma mesma realidade, ou seja, sinais representativos das múltiplas estratégias que fazem funcionar ou manter o dispositivo neoliberal do sistema. Um sistema feito monólogo injuntivo da cegueira económica sobre a insubmissão democrática.
Democracia? Tá bem, tá bem. As nossas leis cuidam disso e o monólogo faz o resto…
Imagem retirada DAQUI
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