segunda-feira, novembro 19, 2012

UMA ACHA PARA A “FOGUEIRA” DA ARGUMENTAÇÃO

 

imagesA economia desde sempre cortejou o político e o intentou desencaminhar. A finança, por sua vez mais ególatra, transmuda-se ela própria – nesta marcha desempachada – em pós-política. A dominação do dinheiro, vivendo de desigualdades e de injustiças, repudia colérico e sem pudor o protesto dos maltratados. Subliminarmente, adota e manobra deste jeito a ideia de violência como categoria ideológica. Naturalizando e neutralizando as iniquidades estrebucha arrebatado perante a insubordinação de quem as recusa. O capital financeiro (e não só) acultura e politiza diligentemente os valores de acordo com os granjeios possíveis. Artificioso, fantasia oportunas moralidades que acobertem a torpidade dos seus emudecidos propósitos.

Nesta linha neoliberal, diria que o PSD/CDS não só atraiçoou como abraçou o embuste eleitoral quando decidiu afrontar a dignidade do voto. Ao assegurar uma coisa e ao fazer uma outra totalmente adversa, a governação iludiu a ordem expectável violando a verdade do método que funda a democracia. Pergunto-me assim de que lado está o argumento atendível da legitimidade apregoada; do lado do governo (e dos que o carregam) ou do lado dos que protestam por se sentirem traídos e esbulhados? O monopólio da violência legítima do Estado (parafraseando Weber) convoca o aforismático “de que à mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. O governo não o foi nem o parece , embora muito faça para o aparentar. Representando a improbidade com o caricato extra dos inocentes pines patrioteiros nas lapelas.

Neste lugar da política, da democracia, dos valores e das hierarquias, a legitimidade constitui-se na sua abstratividade formal (eleitoral) mas confirma-se na concretude coerente da sua ação política. Romper com esta ligação é dissociar o que está dependente e, em consequência, artificializar o regime tornando-o acidental. Eis o paradoxismo em que temos vindo perigosamente a cair. Separa-se o indivorciável e joga-se na hábil dissociação convocando o obscuro discurso económico e, com ele, instrumentalizam-se medos marcados pelas incertezas aí ideadas e prenunciadas. O protesto social generalizado, mesmo que não se goste, é uma resposta massiva à percecionada violência do outro feito governo. Assim sendo, neste lugar discursivo da política, da democracia, dos valores e das hierarquias, importa indagar então qual dos lados tem praticado mais e maior violência? E (sobretudo) onde estão afinal as raízes originárias da progressiva e atual conflitualidade que à violência pode levar? É que a civilidade do protesto também tem, como tudo na vida, limites …

Post-scriptum Neste contexto de crise – e num registo político-ideológico deliberadamente simplificado – direi que os ricos são aqueles que, em consciência, somam as suas rendas às custas do empobrecimento da generalidade. E já agora, para a burguesia anafada, não confundam a mesquinhez da inveja com o saudável sentimento de injustiça.

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