domingo, dezembro 02, 2012

GRATO A NICOLAU SANTOS? UM ESCRITO QUE IMPORTA EVOCAR

jornalismoAcusamos hoje um tempo onde as liberdades de expressão, de imprensa e de empresa, como não podia deixar de ser, litigam legitimidades desencontradas. A obviedade das atrições daí resultantes, como se sabe, enleia os valores do jornalismo e da sua autonomia. Chama-se ao contraditório, entre outros, os critérios de independência, de rigor e de honestidade. Sem estes, ou sem as condições para o seu bom uso, trai-se a liberdade de imprensa e irremediavelmente desserve-se a responsabilidade social do jornalismo.

Esvai-se a ética, desencaminha-se a moral, afrouxa-se a lei e – nesta turbulência brumosa – os interesses, dos corporativos aos censórios de toda a espécie, açambarcam com destreza os consequentes mas tentadores extravios. Afloram então os valores editoriais e com eles força-se a vassalagem do jornalista à liberdade que lhe remanesce ou à serventia que aspira. Antes o enxovalho da obediência - quiçá prometedora - do que a penúria do desemprego ou a dor da incerteza. Ser-se pragmático não é assim (e neste contexto) condição de sobrevivência mas apenas e basicamente modo de vida.

Reconheço a simplificação do que acima está dito tendo perfeita consciência da complexidade do tópico em apreço, marcado como se sabe pelas múltiplas diferenças opinativas, quer de natureza histórica, filosófica ou política. No entanto, não deixa de ser no domínio dos media e nos tempos que correm de progressiva desregulação e concentração que, de modo conhecido e experienciado, a manipulação ideológica acontece sobre a informação, designadamente por parte dos poderes políticos associados aos grandes interesses económicos e financeiros. A comunicação social converteu-se assim e estranhamente, de modo amável, numa área auspiciosa de negócios. Acresce, contudo, que o sector financeiro há muito o havia enxergado e, sobretudo, a vem sabiamente confiscando.

A concentração das empresas neste campo do mediático, como se pode supor, não é apenas uma ameaça à liberdade dos jornalistas mas (no essencial e sobretudo) um espectro à liberdade de emprego. Os grupos de media constituem verdadeiros cartéis que, ao empregar a generalidade dos jornalistas e colunistas, ditam as regras e o futuro do trabalho daqueles profissionais. Qualquer jornalista que se porte menos bem ou se mostre incoadunável com um qualquer órgão de informação, apressa-se a esbarrar daí para a frente com muitas portas trancadas. É neste contexto ignominioso que o escrito atribuído a Nicolau Santos (ampla mas tardiamente divulgado) merece ser recordado, estimado e reconhecido. Como algures comentei, numa imensidão de sevandijas deparámo-nos com exceções que enobrecem o jornalismo e se engrandecem como homens. Como cidadão, pelo exemplo, estou sinceramente grato a quem o escreveu.

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