sábado, setembro 26, 2015

NÂO PERDOES, MAS ESQUECE

 

7919603_fyW3sHá fórmulas convencionais que eu recuso. Confesso que elas já me acudiram perante outros que igualmente as consideravam. “Perdoar mas não esquecer” é uma delas. A coligação PaF não perdoa nem esquece, em 2015, o tempo de 2011. Esta época negativa, sobremaneira reavivada, torna apenas supletivo o tempo que as separa. Num outro plano (e escala), diria que, embora me encanzine com facilidade, a ideia vangloriosa do perdoar é-me repulsiva. A arrogância que procura a humilhação do outro não me merece apreço. Aprendi com o tempo que a arte do distanciamento fluidifica a emoção e irriga a lucidez. Desta destreza, assenta o salubre sedimento que não pode adormecer. Todavia, as inverosímeis sondagens parecem assentar num estranho mas inovador preceito; “não perdoem mas esqueçam”. Sobretudo, no dia 4 de outubro, não perdoem mas, por favor, esqueçam o mal que, por causa de outros, não pudemos evitar de vos fazer. Nestas circunstâncias, e ante tal trapaça que a inversão da fórmula mascara, o saudável sedimento que em mim desperta, em voz ironicamente serena, consente-me sussurrar; “é preciso ter muita, mas mesmo muita lata!”.

 

Imagem retirada DAQUI

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