quarta-feira, março 02, 2016

AO SALTAR MUROS, PODE-SE SEMPRE CAIR

 

João Pedro Marques escreve no DN[1]:


Conta-se que certo dia uma jovem mãe muito preocupada com eventuais erros que pudesse vir a cometer na educação do seu filho teria perguntado ao pai da psicanálise como deveria proceder para não traumatizar a criança. Freud ter-lhe-á respondido: “Não quer traumatizar o seu filho? Não o eduque.”

Ao ler este excerto, de imediato, pensei na afamada expressão lacaniana estádio do espelho. Mais do que explorar este significante como uma natural fase de desenvolvimento, interessante é considerar a metáfora que com ela segue junto. Ou seja, o estádio como um campo onde se joga o jogo de ver e ser visto e do qual o resultado é a imagem própria (aqui, da criança) que se vai estruturando. O surpreendente deste jogo é que para se ganhar tem de se perder. A constituição do eu, ao exigir a perda da indistinção entre dentro (o eu) e fora (o mundo), ganha um corpo que limita o interior do exterior. É óbvio que tudo isto acontece num lugar onde o Outro se envolve também nesse jogo de olhares e assim oportuniza o movimento das identificações, deixando para trás o tempo das imitações. Sendo assim, penso que educar passa por estar sempre presente neste outro tempo compósito em que a criança, ou mesmo o jovem, se abalança na objetivação das identificações e, através da linguagem, vai crescendo na sua função de sujeito. Não obstante, com a condição de não distorcer, com dramatismos escusados, a já de si dura experiência da existência educativa.

[1] No seu artigo de opinião “Freud e o rei Paipai”, de 1 de março de 2016.

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