domingo, abril 10, 2016

ESCREVE, AMIGO

 

michael_cheval_1_ak_thumbÉs um daqueles amigos que muito admiro, permanentemente instigado pelo desafio do escuro, daquele impreciso que te desconcerta, te parece desalinhado, mas que se te apresenta livre, sedutor e acertadamente indisciplinado. Mareias por águas bravias e outras dóceis e domésticas como se a vida não desnudasse o contraste. Curiosamente, respaldas-te naquelas e vives azedado no quotidiano das últimas. Não obstante, é nestas que refazes a saudável vitalidade e energia da tua fúria e encontras o irónico sossego do arrimo que te permite viver a vida que sabes escapar-te.

Por isso, tens de escrever para dar forma ao informe experimentado que te cabe no universo dessa infinidade de possíveis mundos e modos de vida, dando vida aos restos exclusos da desenxabida mas cuidada cena do tartufismo nomeável. Muda de palco e encena a tua história. Dá voz aos silêncios que tão bem soubeste guardar ao longo dos tempos. Sei que sabes escutar os murmúrios desses destroços empilhados e, mais do que escutar, perceber a sua linguagem e inventar as palavras com que o teu imaginário enlaçará o real, que nunca se apreende por inteiro, e o simbólico, que sempre nos surge incapaz. Escreve, amigo. Com nobreza, se fores capaz sem o calor embriagado da inquietação ou, com grandeza, escusando o afável aliciamento do cativeiro. 

Imagem retirada DAQUI

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