sábado, maio 27, 2017

CAUTELA COM AS TOPADAS


Acredita-se que o português fantasia ser o que não é ou estar onde não está. Diz-se que assim vive suspenso no seu tempo histórico, adormecido na sua entranhada religiosidade, replicando-se incansavelmente nas regras e fórmulas do seu culto. Porém, sendo o português, diz-se também, certamente mais supersticioso do que devoto, a vida mostra que lhe sobra uma galhardia feita de talento inspirativo e de emoção lírica fácil, para se ligar a consentâneas circunstâncias, mais doídas ou entusiasmantes, donde se soerguem grotescas e teatrais erupções coletivas.

Errante e dilemático, esse português, usa máscaras e disfarces numerosas, jubila com rotineira leviandade, se bem que fácil (e amiudadamente) se estatele na merda. Descuidado (ou nem por isso), enleia os valores do sentimento e da comoção, cultuando sem lágrimas e com aguaçada destreza, o segredo do mexerico e, com a leveza do instintivo, agarra-se ao vício irresistível de profanar o próximo, mesmo que de um comparsa se trate. Por mim, duvido deste retrato identitário do português. Não obstante, se não me cuido, neles tropeçarei mais vezes do que agoiro.

Sem comentários:

Enviar um comentário