terça-feira, dezembro 05, 2017

HORÁRIO DO FIM


tio oscar2Porventura, sou sem me dar ao desafio de ser. O concreto das determinações que me decide, esconde-se-me. Amiúde, busco resgatar essa história que assim me foge. É nesse exercício de pensar o passado que a saudade, não raro, se experimenta. A circunstância, todavia, desespera pela alvura da nítida lembrança. A pessoalidade de afeto conservado, agita-se no interior das densas memórias esbatidas. A insistência teimosamente fracassada confirma-me de que pouco vale o meu interpelar racional da saudade. Acima de tudo, explicá-la, situá-la. A saudade existe. Sinto-a, e essa é a verdade que me resta da recôndita materialidade. O fardo torna-se, assim, mais pesado e difícil de suportar. De tal maneira fatigante se faz que a saudade se completa em pesadelo. O vigorante saudosismo, acolitado pela sobredeterminação de cabalísticas raízes, culpa-me então de fraqueza. Suponho-me, então, exilado nesse passado que não recupero, mas que o sinto na pele sensível do vivido.

Em jeito de sinopse, significo com Mia Couto, lembrando que o Fim tem sempre o seu horário. Quando chega a vez, morre-se de nada. Quando é o justo momento, morre-se de tudo. Porém, não é nunca, para nós, esse momento. Por isso, as memórias cá estão para suspender e embargar esse Fim. Com a saudade a musicalizar a inspiração dos achados que interessam. Por isso, sem saberes, continuarei a cruzar-me contigo. Até breve, tio.

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