domingo, março 04, 2018

O AGITADO ACERVO DO INCERTO

Com mais ou menos distância, curiosos espiamos o pequeno mundo à nossa volta. Amiúde, a corrente e irreprimível opinião advém daí fria, desproporcionada ou tontamente comprometida. O ponto de vista raramente se forja no sofrido silêncio das meditações do pensar. De um modo fácil e ligeiro assim apressamos a crendice que supostamente a advoga e confirma. Com a avidez de entrar em cena, o falar não ajuda. Pelo contrário, pois à exigência do pensar, priva-se o seu merecido tempo. A repentina produção bruta, deste jeito, cegamente aliena o desafio da paradoxal urgência do seu acabamento. Sendo o pensar uma prática solitária, aparentemente silenciosos, os outros estão aí sempre presentes. Estimulando as nossas hesitações e agitando as nossas certezas. Com a pressa de a estas chegar, com igual ligeireza enjeitamos a fecundidade do incerto. Nesta longa e humana viagem, feita de concordâncias e discordâncias, as incertezas cumprem a sua serventia. O seu potencial valor de assim fazer progredir o pensado que, afinal de contas, interessa escutar e partilhar. Sem qualquer banimento de percursos que dessa viagem são parte, das simples caminhadas às extensas rotas. O agir humano e social desta clarividência carece. Não obstante, sem oníricos e inférteis idealismos.

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