Parafraseando Saramago:
… o ser humano que nos gabamos de ser sempre soube humilhar e ofender aqueles a quem, com triste ironia, continua a chamar de semelhantes. Para tal inventou-se o que não existe na natureza, a crueldade, a tortura, o desprezo.
De Folhas políticas (1976-1998). Lisboa: Caminho
A subalternidade e a dependência peregrinam quase sempre de mãos dadas. Tal vagueação, sentida como condição, torna-se um cego namoro que se encanta no silêncio da subordinação. Nesse mesmo tempo, acasalam-se as suas almas, e o trato intimo entre ambas, posteriormente, favorecem o seu arrumo no virtuoso mundo da modéstia. A história continua e faz-se ao toque da ordem pura das coisas. Uma probidade desenhada sem suspeitos tolhimentos, nem imposições. Tudo correndo no sossego e silêncio dos deuses e, como convém, sem avisados antagonismos. A subalternidade e a dependência, desse jeito, neste olimpo assentam os cavoucos de uma acondicionada posição entre o “eles” e o “nós”. Entre os que, nessa ordem calculável, aproveitam e os outros. Estes outros que renunciam, ou apenas familiarmente dormem, todos os dias, na cama dos seus amos.
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