sexta-feira, outubro 12, 2018

A AMEAÇA DE UMA ÉTICA QUE CALA A SUBORDINAÇÃO


Nem sempre se é capaz de interpretar as coisas à maneira de Deus, mas, quando assim é, não resta outro caminho se não tentar compreender as coisas à maneira dos homens. Assim, parafraseada esta ousadia saramaguiana, e sobretudo adotando-a, é ajuizado ter profundamente presente o fatal entrecho do necessário teatro mental no qual se vai encenando a busca de mudados entendimentos.

Consentindo a transitoriedade da humana verdade, quando não a sua intangibilidade, importa não recusar a subjetividade tolerável de um incerto resvalar, quiçá lírico, todavia verdadeiro humano. Ainda que de apego ardente, ou mesmo obstinado, tanto como consciente se está da adversativa familiaridade dos cenários reguladores de bastardos movimentos, ou mesmo, de acabados destinos lógicos. Sente-se, assim, impelidas por tão valorosa firmeza, a vontade e o desejo de caminhar sem fim por lugares de coragem moral, não abandonando a possibilidade, despontantes de desafiantes brechas, de continuar livremente a desejar.

Pergunta-se, então, que consciência determina a convivência reflexiva com um tal roteiro ético que, afinal, tanto inquieta? Onde se encontram, em suma, as raízes da liberdade que, por último, fazem medrar tal inquietude? Será que tal liberdade permanece no interior do seu contrário, nesse avesso que cala, sob o signo do ético descorporalizado, por certo uma consciência desanimada, fracassada ou, quem sabe, destruída?

Não será uma outra, porventura uma conflituante consciência, a condição da possibilidade constitutiva do ser sujeito, sujeito da sua possibilidade de ficcionar, de se inventar e mudar? Uma consciência que, de verdade, dê sentido a uma primordial necessidade, a da necessidade de surpreender uma ética que amolde e proteja uma condição que propicie a possibilidade de transfiguração e transformação, a bem de uma liberdade radicada na condição humana, e como tal, zeladora da sua, e sempre, melhorável dignidade? Vale a pena tentar. Acredito que … sentir-nos-íamos bem mais vivos e, decerto, mais felizes.

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