domingo, dezembro 30, 2018

UM TIPO MAIS QUE PROVÁVEL


pintura-em-tela-abstrata-pinturaO tipo mais que provável normalmente é perspicaz, sobretudo matreiro. Tudo o que diz tem significado, mostra-se claro e, como é normal, veicula sentido naquilo que diz. Os porquês são compreensíveis e o arrazoado revela inegável discernimento. Assim, o tal tipo mais que provável ao acreditar que aqueloutro, o outro a persuadir, acredita, e ante a verossímil aceitação, supõe-se já bem perto da proeza. Logo, sente-se aí mais confiante, seguro do tempero usado no urdido simulacro da sua calada razão. Se a sua fé porventura balança, a argumentação estende-se então pelo interior tortuoso da cooperante desculpa. Ante um qualquer revés lógico, ou desacauteladas imperfeições, as justificativas saltam, de imediato, em jeito de primeiros socorros. A realidade da artimanha não podendo revelar-se, as justificações do tipo mais que provável, nestas circunstâncias, cumprem o seu ofício. Apressadamente elas, tais justificações, se precipitam e se prestam, como é óbvio, às urgentes e imediatas assistências. Se o cenário, por acaso, se enlaça e toca os limites da dificuldade, o tipo mais que provável mesmo assim não abdica das suas intenções. Entra na decisiva e sintomática fase da emergência do pretexto, na parte aguerrida da subtil evasiva que o subterfúgio sempre acolhe. Abriga, então, e teimosamente, a sua farsa passando da aclaração à bruma da altercação. Mais do que repisar o que havia dito, ao tipo mais que provável convém-lhe agora desviar o foco. Por outras palavras, interessa-se menos pela conformidade da sua narrativa e mais por dispersar e contraditar as apreciações do outro. Não obstante, o tipo mais que provável desfruta de uma qualidade particular que aprecio; não morde pela calada, característica seráfica dos fracos normalmente sonsos e silenciosos e, pior do que tal, inconfiáveis.

Imagem retirada DAQUI

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