domingo, junho 23, 2019

PENSAR O ENVELHECIMENTO E A LONGEVIDADE HOJE

Síntese da minha intervenção no 13º Congresso da FENPROF

Pensar o envelhecimento e a longevidade hoje, é idear um cenário onde alguns equívocos, culturais e ideológicos, se movimentam. Em especial, ao reconhecer-se que o seu lado positivo e significante faz-se de desafios humanos e sociais de óbvio merecimento político. Compreender tal realidade obriga a um olhar inteirado que, à premência dos impasses do presente, a ela acresça futuro. O envelhecer acontece a todos, todos os dias. Não tem data marcada. Deste modo, o envelhecimento faz-se, por essa razão, um tempo que a todos pertence. Não somente aos reformados de hoje, mas, mormente, dos que esperam uma aposentação com amanhã.


Pensar o envelhecimento e a longevidade hoje, não aguarda o momento da aposentação, desse tempo simbólico onde tudo parece iniciar-se. A simplificação aqui interposta desmerece um processo desejavelmente natural, ativo e progressivo, confirmado na sua irreversibilidade. O envelhecimento, sendo algo que se modaliza diferentemente de pessoa para pessoa, é obviamente marcado por condições de vida objetivas e pelas respetivas transformações sociais que as assistem. A longevidade será, assim, adicionalmente depreendida como um tempo de todos, desse tal inevitável amanhã do natural envelhecimento.

 
Pensar o envelhecimento e a longevidade hoje, mais do que nunca, mostra-se cada vez mais manifestamente um tempo de todos. Para tal, é inadiável significar esse tempo que se completa e se determina através dos seus múltiplos tempos sociais. Tempos estes que se materializam em dimensões determinantes na qualidade de vida das pessoas, a começar por quem ainda trabalha e aspira à sua justa aposentação. Repesando, deste modo e a diversos níveis, os tempos de trabalho e os tempos de não trabalho. Aprendendo a envelhecer, enraizando o seu saber crítico no que vai acontecendo e experienciando. Procurando viver esses diversos tempos revertendo-os em momentos e circunstâncias estimulantes e, seguramente, bem-sucedidos.


Pensar o envelhecimento e a longevidade hoje, não se acerta, pois então, no momento da aposentação, ou seja, num possível e inquietante tempo de rutura, quiçá marcado por uma continuidade improvável e arredia. Aprender a viver o tempo de aposentação, acarreta compreender, politica e ideologicamente, a extensão e o enredamento do seu percurso prévio. Os caminhos são naturalmente diversos, decerto mais penosos para aqueles que os palmilham em terrenos de maior fragilidade humana, social e profissional. As desigualdades, fonte discricionária dessas fragilidades, naturalmente que se repercutem de modo diferente ante a progressividade do envelhecimento. Todavia, o nosso tempo permanece sempre e continuadamente aprisionado à complexa questão dos tempos sociais, nomeadamente quando ele, de modo abusivo, nos é confiscado. Ou melhor, se consume docemente enquanto objeto de exploração desta confeiçoada ordem colonial capitalista.

Sem comentários:

Enviar um comentário