sábado, setembro 28, 2019

EM TEMPO DE ELEIÇÕES, UM ARRISCADO ATREVIMENTO

O entretém do negócio mediático seguramente arreda vitalizantes e humanos tormentos. Enfeitiça o pululamento entre irrisórias telenovelas, comovedoras desgraças e outras eletrizantes frivolidades, esmerando assim o acabamento do devoto cliente. Como vale, ajustando em permanência o desfrute alegre de um tempo com pouca sobra para entender a vida, a confinante vida. Imerso então no torpor de adventícias pertenças, o confiável freguês repousa ingénuo na consolável religiosidade de um não-lugar tomado como seu. Sem pauta própria, resiste acolhendo – e não escolhendo – a musicalidade em voga. Todavia, não uma qualquer, mas a que se lhe prefigura antever um resguardo, ao que parece, mais seguro e, sobretudo, assegurado. Mestria adestrada pelas reiteradas e massificadoras mediações que têm por peculiar encargo apostolizar o público reconhecimento. Manobrando significações, ordenações e homologações, não esquecendo o arremate certeiro de frutuosas e oportunas omissões. Delineia-se, deste jeito, afinidades e sintonias. Abrigando, e guardando, no meio comum do magote, os silêncios apreensivos que as íntimas e embaraçosas fragilidades atenazam. Um lugar, afinal, que se faz caverna de fraquezas e inocências e que, por reserva, aí se acoitam. Mas aonde utilmente se adensa, em tempo de reservados apetites eleitorais, uma disputável e, acima de tudo, manipulável maioria silenciosa. Uma maioria por fim aliviada, quem sabe absorvida no bizarro triunfo dos vencedores. A pasmaceira reflui então contente à caverna, e a devoção – ufa - à mansidão de todos os dias.

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