segunda-feira, março 29, 2021

O IMEDIATO, O MEDIATO E UMA PERCEÇÃO

José Gil, no seu livro O Tempo Indomado, alega que a subjetividade digital implica novas perceções do espaço, do tempo e do corpo. Eis um enunciado labiríntico e desafiante, não só na superfície lisa e impaciente das ideias como, e aqui sim, nas presumíveis e caladas decorrências da deduzida, e consequente, virtualização em todos os domínios da experiência[1]. Sintetizando o tema de A crise da subjetividade, num arrumo meu, resumido, referencio alguns dos subtemas aludidos, predizendo, e assim anunciando, uma multiplicidade de relações indeterminadas, tais como, a experiência do tempo num tempo virtual, o encapsular do tempo e a absorção da realidade, a experiência do corpo, os processos de subjetivação, a manipulação das linguagens informatizadas, seus códigos e algoritmos, a desterritorialização dos referentes tradicionais e sua virtualização, entre outros possíveis.

Desta súmula prenunciadora, o essencial que daqui pretendo destacar, e ressair, é a questão central da subjetividade enquanto processo pelo qual o indivíduo traceja e organiza a sua singularidade e a torna elemento constitutivo do seu ser, indissociável do contexto, da historicidade, das significações e dos sentidos aí originados. Se assim for, será no âmbito consequente de uma complexificação progressiva de relações que, naturalmente, se vai incorporando e aprimorando (pela positiva ou não), uma construtura de mediações que posiciona o particular nesse inerente e permanente diálogo entre o singular e o universal, quiçá subjetivo. Daí, certamente, desponta a importância da qualidade e da materialidade (humana e social) dos vínculos que se estabelecem com a vida e com o mundo, relevando a sua hierarquização e subordinação, de modo que a “consciência sobre si” se faça útil, moral e exigente. Todavia, a caotização geral de que José Gil refere, as brechas que abre e espalha, e que certos interesses e poderes aproveitam, e impõem, será ou não, interrogo-me então, fruto/produto de uma crise da subjetividade inscrita, e acasalada, já hoje, no silêncio dessa alegada crise generalizada da vida social e individual?


[1] Págs.101 a 104.

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