quarta-feira, outubro 26, 2022

EVIDÊNCIAS OCULTAS

 Neste tempo da (pós)modernidade a verbosidade não falta. Vive-se tempos energicamente marcados pelo agressivo e dispersado paradigma do imperialismo capitalista. A racionalidade neoliberal vai-se incentivando através da traiçoeira palavra legitimadora do egocêntrico e interesseiro individualismo. As oposições primárias que servem o seu expansionismo repetem-se e dão-lhe sustento reforçado. As variantes incessantes do primário, eu sou eu e o outro é outro, o que é meu é meu e tudo o resto são tretas, ressoam. Da sua diversa e reconhecida simpleza, muda e múltipla, despontam as raízes discursivas. Rotineiras e vivamente repetidas, fazem-se identitárias de forte enlace ideológico. Outros arranjos se associam revigorando dilúvios de poder de oficiosos corpos intermédios. De simbólicos a representativos é um pulo credor de validação democrática. Assim sendo, no terreno da vida e das suas circunstâncias, invocar o inverso é infame. Rotuladas de lábias sujas, próprias de indolentes enciumados ou de obtusos e ferozes esquerdistas. Por isso, é neste contexto que o Privado, enquanto sector, se apresenta com rematadas certezas e irrefutáveis méritos. Mesmo assim, o Público canhoto, o dito comum, talvez importe, sim, mas para tratar, e apenas, do que sobra. Acima de tudo, se se amiga ao particular e a ele se molda. Só assim a Liberdade merece ser confirmada, a Democracia validada e, como tal, o Povo não deixará de ser soberano alcançando o cume da pirâmide hierárquica do poder. Porém, com a vida fluidificada na narrativa fabulosa dos referidos conceitos de Liberdade e de Democracia, o nocivo tóxico das abstrações produz os seus efeitos. As analogias, as metáforas, as imagens e as comparações assim se vão sucedendo na acolchoada representação da teatral retórica. O futuro manter-se-á pois garantido, todavia na reiterada e estrutural promessa de credenciar essa gente competente, e não só, também gente boa e de bolsos cheios.

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